terça-feira, junho 17, 2008

No inesquecível Vale Sagrado

Era bem cedo e já estávamos em uma rua bem movimentada de Cuzco, perto da Plaza de Armas, esperando a nossa van que nos conduziria para conhecer o Vale Sagrado dos Incas. Tínhamos atrasado um pouquinho, então a mulher da agência precisou ligar para o motorista, que estava pegando outros turistas nos hotéis, passar na porta da agência onde estávamos. Não me preocupava com este problema, já que nós não tivemos o benefício de ser buscado no hotel devido às dificuldades de dirigir uma van naquela rua tão estreita de San Blás.

Dentro da van, não demorou muito para que nós pegássemos a estrada rumo ao nosso destino. O Vale Sagrado dos Incas, como o nome já diz, é um vale formado por terras planas margeando o rio Urubamba, que foi o grande eixo de produção de comida, transporte, produção cultural e religiosa, além de domínio político e militar da civilização Inca. Grandes montanhas dos dois lados limitam a extensão destas terras, tornando a largura do vale variável, dependendo local. O início do vale é bem próximo a Cuzco, mas ele se estende até Machu Picchu, ficando cada vez mais estreito à medida que vai chegando às ruínas da antiga cidade Inca.

Assim, logo que deixamos Cuzco, subimos uma grande montanha até um certo ponto que dava acesso ao vale. A partir daí, a estrada desce até as margens do rio e o vai seguindo até a cidade de Ollantaytambo, onde quem quiser prosseguir até Machu Picchu precisa pegar um trem.

A primeira grande atração do dia foi a feira de Pisac, famosa pela grande oportunidade de comprar legítimos artesanatos peruanos por um bom preço. Todos estávamos bem empolgados com a idéia de ficar um bom tempo olhando as centenas de diversos produtos e pechinchando com os vendedores, palavra de ordem tanto na Bolívia quanto no Peru, quando a nossa guia nos avisou que ficaríamos ali apenas 40 minutos. Foi um banho de água fria.

Assim que a van parou, todos descemos apressadamente e, sem perder tempo, avançamos às primeiras barracas da feira. Eu tinha uma meta pessoal, que era comprar um brinco para a minha mãe e um pingente de sol inca para mim. Nesta hora nos separamos e cada um foi tratar de construir da melhor a maneira a sua sorte.

A situação foi muito engraçada. À medida que a gente andava na feira, cruzávamos uns com os outros. Quando isto ocorria, tínhamos poucos segundos para trocar alguma informação, e partíamos novamente para o comércio. A feira era enorme, o que aumentava a tentação de permanecer por mais tempo. Toda vez que reencontrávamos um dos nossos, notávamos mais uma sacolinha espremida no braço. Foram minutos intensos de pura manifestação capitalista. No fim, parecíamos todos saídos de uma gincana – cada um cansado com a rapidez exigida, mas contente com o saldo final de compra.

Dali seguimos até um sítio arqueológico que sinceramente não me lembro o nome, mas que foi muito interessante, já que havia uma montanha onde os incas enterravam as pessoas de classes mais baixas, cada uma socada em cima da outra.

Neste lugar também havia uma pequena cidade construída bem alta, na encosta de uma montanha. Subimos até lá para conferir de perto as formidáveis construções incas. A arquitetura é baseada na construção de terraços e, por meio deles, eram montados os cômodos e a área de circulação. De cima tínhamos uma vista estupenda do vale e das montanhas ao redor.

Seguimos para uma cidade não muito longe dali para almoçar. A cada hora que passava a nossa guia nos chamava cada vez mais atenção pelo seu jeito único de ser. A Tia Qéchua, como nós a chamávamos (apenas entre nós), era uma pessoa empolgada por natureza pela história de seu povo. Estava sempre disposta a explicar de forma bem animada todos os detalhes por onde passávamos. Acima de tudo, era uma mulher feliz com o seu trabalho e com a oportunidade de transmitir conhecimento sobre o seu país e sua cultura. Orgulhava-se disto e fazia questão de mostrar todo o seu orgulho a todos ao seu lado.

Era uma pessoa peculiar. Tinha um estilo próprio e muito forte de fazer as coisas. Em muitos momentos estas características produziram situações muito engraçadas. Como na hora do almoço, em que, pouco antes da van estacionar e abrir a porta para sairmos, ela explicou que havia três restaurantes que podíamos escolher para almoçar, mas que no primeiro o seu grupo tinha desconto. O porcentual do desconto eu não me lembro, mas o fato de que 98% das pessoas optaram por este restaurante foi no mínimo engraçado.

Tinha uns termos próprios que ficava repetindo toda hora e que, com o passar do dia, foram ficando cada vez mais engraçados. Assim como no caso do restaurante, Tia Qéchua não perdia nenhuma oportunidade de mostrar a todos as vantagens de estar em seu grupo. “Porque o grupo de Maria (nome fictício) tem isto a mais; o grupo de Maria pode fazer aquilo sem problema”, lembrava sempre.

Outro detalhe marcante era que ela se referia a nossa van como uma ‘mobilidad’, meio de transporte em espanhol. A toda hora, estando dentro ou fora da van, ela sempre se referia ao nosso meio de transporte como ‘nuestra mobilidad’. “Vamos volver a nuestra mobilidad....., vamos salir de nuestra mobilidad”, insistia. Isto quando ela não puchava palmas para o motorista, no meio do passeio. Em outras palavras, a Tia Qéchua era uma figura.

Não posso me esquecer que foi ali no Vale Sagrado que, depois de muito tempo, tive contato novamente com feijão cozido. O problema é que ele era bem branco e meio duro. Acredito que a espécie de feijão de lá não foi feita para ser servida do mesmo modo que fazemos aqui no Brasil. Apesar do preço ter sido um pouco salgado, foi uma refeição muito boa.

A última atração do vale sagrado foi à visita a Ollantaytambo, uma cidade em volta de ruínas com o mesmo nome. É a única cidade da era inca no Peru ainda habitada. Ollantaytambo foi grande, já que se constituiu em um complexo militar, religioso, administrativo e agrícola. A maior atração são as ruínas da fortaleza que foi construída para dominar o Vale Sagrado. Novamente construída nas montanhas por meio de terraços, a fortaleza de Ollantaytambo era formada por rochas muito grandes que não eram encontradas a muitos quilômetros dali, o que significava que os incas possuíam uma técnica surpreendente de transporte de carga.

Apesar da altitude ser bem mais baixa comparada a outros lugares que já estivemos, Ollantaytambo está a aproximadamente 2.700 metros acima do nível do mar, foi um esforço nada pequeno para subir até o alto das ruínas e percorrê-las por dentro, algo muito interessante e que realmente valeu a pena.

Após a visita a Ollantaytambo, só nos restou voltar a Cusco. Chegamos à antiga capital Inca já à noite, certo de que acertamos em cheio ao visitar o Vale Sagrado. À noite, depois de jantar, demos uma esticadinha em um bar famoso por sua movimentação noturna para conferir a noite de Cuzco. Como era domingo, o lugar estava bem vazio e pouco animado. Antes de voltar ao hotel, não perdi a oportunidade de tomar uma Cuzqueña, cerveja típica da região.

Mapa do Caminho - Dia 14

Data: 17/06/2007
Cidade: Cuzco, Peru
Passeio: Vale Sagrado

2 comentários:

Rodrigo Alves disse...

O mais legal, depois, foi descobrir que seríamos novamente guiados pelas tia qéchua "en nuestra mobilidad", hehehe...

Maria Cristina disse...

Cadê o post de hoje? Não pode enganar os leitores hein

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