domingo, junho 22, 2008

Pela cidade branca

Chegamos a Arequipa bem de manhã, antes das sete horas. Ao desembarcar na rodoviária logo vimos que, mesmo já na parte final de nossa viagem, ainda viveríamos situações que nos causaria surpresa. Por exemplo: existe uma política da prefeitura de Arequipa que garante táxi gratuito para os turistas que desembarcam na cidade. Eu, sinceramente, nunca havia visto isto na minha vida. Ficamos até meio desconfiados da oferta, mas, como se provou ser verdadeira, não demoramos em aproveitar o benefício de, finalmente, sermos ‘VIP’ em algum lugar e podermos usufruir alguma vantagem.

Assim, desta vez, não precisei negociar a exaustão com o taxista para ele fazer a corrida mais barata. Bastou perguntar se realmente o benefício estava valendo e embarcar. Mais uma vez o excesso de sono impedia atitudes mais lúcidas e transparentes. Chegou a parecer que tudo aquilo era apenas alucinação do nosso estado de fatiga. Contudo, quando percebemos já estávamos andando pelas ruas da cidade.

Precisávamos de um hotel, e o nosso motorista ‘na faixa’ assumiu a nossa necessidade como sua causa. Naquele momento, nem utilizávamos mais o nosso roteiro - íamos caminhando e tomando decisões de acordo com a situação. O motorista nos informou que conhecia muitos hotéis e que conseguiria um lugar legal por um bom preço.

Como era muito cedo, havia o problema de alguns hotéis ainda não estarem com as suas portas abertas. Foi assim no primeiro hotel que ele nos levou, onde tocamos a campainha e o peruano que atendeu, depois de uma longa demora, estava com uma cara de sono mais inchada do que a nossa. Não havia vagas. No segundo hotel não me lembro qual foi o problema, mas também não deu certo. Só fomos conseguir, finalmente, nos alojar no terceiro.

Era um hotel mesmo, sem características de albergue. Eles nos fizeram um preço especial, meio caro para o padrão que adotamos em toda a jornada, mas que pela nossa situação acabamos aceitando. Pegamos a nossa bagagem no táxi, e fiz questão de dar uma boa gorjeta para o motorista, que havia nos ajudado muito a encontrar o hotel, sem pressa, com bastante paciência e o melhor, de graças (rs).

Mal entramos no quarto e tiramos o restante da manhã para descansar. Aliás, a terceira parte da viagem foi marcada pelo nosso baixo vigor físico. Depois de quase vinte dias de intensa movimentação, passeios, viagens e pouco sono, o corpo acabou pedindo ajuda. O fato prejudicou um pouco a nossa intenção de conhecer as últimas cidades e lugares, mas também nada mais justo que nos dar um pouco de descanso, depois de tudo o que se passou. Afinal, estávamos de férias. Desta forma, saímos só mais tarde, para conhecer a cidade e almoçar.

Arequipa é uma bela cidade. Aos pés do vulcão Misti, tem o apelido de cidade branca. Isto porque grande parte das construções foi feita usando como base uma rocha vulcânica branca, que deu um toque especial à cidade. Ela também fica em uma região muito árida dos Andes, quase desértica, e foi construída em uma área de oásis. Há uma praça principal, a Plaza de Armas (quase todas as cidades por aqui tem uma grande praça com este nome), onde se localiza a maior parte do comércio, bancos, lojas de conveniência, restaurantes e outros.

Além da escalada do vulcão Misti, que certamente é um passeio tão maravilhoso quanto estafante, Arequipa também é o centro para os turistas que querem conhecer o famoso Canión del Colca, a 160 quilômetros a noroeste da cidade. O Colca, como é conhecido, é quase duas vezes mais profundo do que o Grand Canion, nos Estados Unidos, sendo que as suas ‘paredes’ não são tão verticais quanto às do seu primo gringo.

Como não tínhamos tempo para fazer nem o Colca, nem o Misti (geralmente são feitos em dois dias), procuramos um passeio mais light, que poderia nos dar a idéia da região. Visitamos algumas agências de turismo, conversamos com algumas pessoas, mas só fechamos no dia seguinte. Escolhemos um passeio chamado Campiña, que nada mais é do que um tour por Arequipa e arredores.

Após o almoço, fomos cuidar das nossas mais diversas necessidades funcionais (banco, fotos, câmbio e outros) e tratamos de dar um bom passeio pelo centro. A Plaza de Armas é algo fantástico, com todos os seus prédios brancos e muitos coqueiros no centro. Coisa de cinema. Logo ali, em uma rua paralela, gastamos um bom tempo em uma livraria, escolhendo algumas obras em español para levar de volta ao Brasil. Eu comprei um livro da história do Peru, mas ainda não li. Pretendo em breve.

Já no entardecer, paramos em um dos muitos cafés que existem na cidade para comer alguma coisa. Estava muito a fim de experimentar uma das maravilhosas tortas que estes locais exibiam pelas janelas, mas meu estômago, mais uma vez, reclamava, então me contentei com um chá de coca. O meu alívio era que estávamos nos últimos dias de altitude. Depois de Arequipa, que já não é tão alto (2.400 metros acima do nível do mar), o nosso destino era o litoral.

Uma cena que jamais esqueço foi quando, já à noite, passamos por uma das ruas principais da cidade e vimos uma igreja toda decorada. Assim que cruzamos a porta, um carro chique parou bem na nossa frente e de dentro saiu uma noiva. No pátio, de fora da igreja, muitos convidados assistiam a cena. Com cara de quem estava várias semanas viajando pela América do Sul e condições de quem esteve caminhando pelas ruas o dia inteiro, tratamos logo de sair dali. O jeito foi descansar mais, já que no dia seguinte ainda tínhamos muito chão até Lima.

Mapa do Caminho - Dia 19

Data: 22/06/2007
Cidade: Arequipa, Peru

Um comentário:

Rodrigo Alves disse...

Arequipa é cidade do interior peruano mais charmosa que visitamos. Vale lembrar também que o escritor Mario Vargas Llosa nasceu lá.

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