sábado, junho 28, 2008

De volta ao mundo lusofônico

Decolamos por volta de meia noite e meia do Aeropuerto Internacional Jorge Chávez. Estava nas primeiras fileiras de poltronas, do lado esquerdo, entre uma gringa, que parecia escandinava pela brancura da pele, e uma outra de nacionalidade desconhecida e que não tinha a mínima noção de espaço. Por estar no meio eu era o mais prejudicado, e esta mulher ainda queria estender suas pernas no pequeno local onde eu espremia as minhas.

A viagem tinha duração de quatro horas, mas como voltaríamos ao horário de Brasília (duas horas a mais do que o de Lima) chegaríamos a Buenos Aires pouco depois das seis e meia da manhã. Ou seja, nossa noite teria duas horas a menos. Só consegui dormir uma hora no avião, mesmo assim muito mal. Meu corpo doía todo naquele espaço minúsculo. Uma hora antes da decolagem, comecei a ter uma sede incontrolável. Chamei a aeromoça e ela me trouxe um ‘vaso de agua’, que se limitava a três dedos de água. Não deu nem para o começo.

Depois que passamos das seis da manhã, começou a dar desespero. Torcia para que a viagem estivesse no final. Tive que esperar mais quarenta minutos para começar a movimentação das aeromoças. Que alívio! O dia começou a amanhecer, mas não se via nada de fora da janela. Pensei que estávamos sobrevoando meio a uma nuvem, porque não dava a impressão de estarmos descendo. Quando a visão ficou limpa, porém, já estávamos a poucos metros da pista. Era neblina. Menos mal, pois havíamos chegado na fria Buenos Aires.

Quando desembarquei bateu um grande desânimo. Não tinha dinheiro para sair do aeroporto e usar as oito horas que tínhamos ali para conhecer a cidade, já que para voltar depois teria que pagar novamente a taxa de embarque. Somava-se ainda a fome, sede e sono. Tratei logo de solucionar os dois primeiros problemas. Como não achei uma casa de câmbio perto, fui a um restaurante próximo e usei cartão de crédito. Comi um lanche, bebi um refri e logo meu humor começou a melhorar.

A seguir fui conhecer o aeroporto. Descobri que a área internacional era mais do que o dobro do tamanho que eu imaginava. Muitas e muitas lojas, mas todas com um defeito em comum – preços bem caros. Perdi a conta de quantas voltas eu dei por lá. Acho que gastei o piso do aeroporto de tanto ir de um lado para o outro, para passar o tempo. Quando cansei, deitei-me nos bancos e tirei um cochilo.

Entre um cochilo e uma batida de pernas, o tempo foi passando. Logo estávamos na hora do almoço, mas preferi economizar e deixei para comer no avião. O nosso vôo saía as duas e meia da tarde e chegaria em São Paulo pouco depois das cinco horas. Desta vez não houve atrasos. Logo depois das duas, uma funcionária formou a fila e prosseguiu o embarque.

Desta vez a minha viagem só não foi pior porque o vôo não estava cheio. O lugar de janela ao meu lado não foi vendido. Essencial, já que quando fui sentar na minha poltrona, no meio outra vez, percebi que eu não cabia no espaço destinado. Os braços da poltrona meio que entortaram quando eu insisti. Pulei para a janela e fiquei torcendo para que ninguém aparecesse.

Apesar do cansaço a viagem foi muito legal. Logo na decolagem deu para ver o Rio da Prata e a costa uruguaia. Depois da comida, fiquei observando e, de longe, avistei Florianópolis. O avião ia acompanhando a costa brasileira em uma bonita tarde de sol. Desta vez foi o contrário, lamentava a medida que o vôo ia chegando ao final. Nos últimos quarenta minutos, conheci um menino boliviano que viajava no banco da frente e que voltava, com os seus pais, para Santa Cruz de la Sierra. Fiquei conversando com ele até o desembarque.

Foi uma das poucas vezes na minha vida que achei bom ser brasileiro. Assim que apontamos no corredor da imigração, vimos uma grande fila à esquerda. Não deu nem tempo para lamentar, já que ao lado havia uma placa informando: “Brasileiros à direita”. Ou seja, sem filas. Para fazer um teste, guardei o passaporte e mostrei a carteira de identidade para o oficial da Polícia Federal. Ele deu uma olhada rápida na frente e no verso e me deixou passar. Para agradecer acabei me enganando e soltei um “gracias”. Coisas que a gente faz depois de tantos dias longe do nosso país.

Já no lado de fora do Aeroporto de Guarulhos, precisávamos encontrar um meio de transporte para o centro de São Paulo. Por mim iria de ônibus e economizaria um dinheiro, já que minhas reservas financeiras estavam bem baixas. Porém, os outros quiseram dividir um táxi e acabei não querendo ser o ‘chato da história’. Como foi bom estar de volta em um táxi brasileiro, falando português, vendo as placas na rua em nosso idioma, estando novamente em uma cidade brasileira. Estava com saudades de tudo isto.

O taxista, porém, se complicou na hora de procurar o nosso hostel, no centro. Não sabia onde era a rua Barão de Campinas. Ligou um GPS, contatou a central, mas no final o que valeu mesmo foi a minha memória, já que sempre fico lá quando vou a São Paulo. Como só eu e o Rodrigo optamos por ficar no albergue, entramos e pedimos um quarto duplo. Já era noite nesta hora. Estava tão cansado que mal conseguia manter os olhos aberto. Fomos até a lanchonete do próprio hostel e comemos um cachorro quente. No quarto liguei a televisão, mas não agüentei ver um minuto de “A Grande Família”. Adormeci como uma pedra, e nada me acordou até a manhã seguinte.

Mapa do Caminho - Dia 25

Data: 28/06/2007
Saída: Buenos Aires, Argentina
Chegada: São Paulo, Brasil
Distância percorrida no dia: 2.375 km
Empresa aérea: Aerolineas Argentinas
Duração da viagem: +- 2h30min
Tarifa: +-R$ 720,00 (de Lima a São Paulo) + taxa de embarque (US$ 30,75)

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