quarta-feira, junho 11, 2008

Chá de coca

Acordei com a certeza de que precisaria de muitos dias sem fazer nada para me recuperar da primeira parte da viagem. O pior era o cansaço físico que teimava em não ir embora. Mesmo com as viagens menos freqüentes, com mais tempo para permanecermos em um mesmo local e, conseqüentemente, termos menos desgastes, parecia que eu levava o mundo nas costas. O mal da altitude começava a mostrar os seus piores sintomas.

Depois do café da manhã, descemos ao centro da cidade para ‘cuidar da vida’. Em uma viagem longa, lembre-se bem, não é só visitar, caminhar e conhecer. Precisamos investir um bom tempo para cuidarmos de assuntos referentes a nossa estrutura pessoal. Ou seja, mais hora ou menos hora, tínhamos que ir a lavanderia deixar nossas roupas, no supermercado comprar comida, na loja de fotos descarregar nossas máquinas, no banco tirar dinheiro e assim por diante.

Naquela manhã, nosso objetivo principal era encontrar a agência do Banco do Brasil (isto mesmo, na Bolívia), já que precisávamos tirar dinheiro. Eu, pessoalmente, tinha levado uma quantia em dólares suficiente até a capital boliviana, deixando para sacar lá no BB de La Paz mais uma leva de verdinhas. Identificar pontos de saques ao longo do roteiro é uma forma de se planejar para não precisar levar muito dinheiro em mãos desde o início da viagem, aumentando assim a segurança. Mais à frente, vi que nem é preciso se preocupar tanto com isto, já que hoje já é possível fazer saques nas milhões de máquinas automáticas espalhadas por outros países.

No caminho encontramos uma loja fotográfica e aproveitei para descarregar as fotos da minha máquina. Como é bom a tecnologia que permite você, rapidamente, passar todas as fotos da máquina para um CD e continuar fotografando normalmente. Lembro do martírio que era quando tínhamos que ficar entupindo a mala com aquelas dezenas de filmes.

Mais um pouco de caminhada, descendo a avenida, encontramos o Banco do Brasil. Não sei em relação os demais, mas para mim foi muito estranho entrar numa agência do BB e ter que conversar com os funcionários em espanhol. Fiquei com aquela impressão: “Putz, da última vez meu banco falava a minha língua”. Ah sim, desculpe-me pelo trocadilho, rs.

Os funcionários foram extremamente atenciosos. Gastaram mais de hora fazendo a papelada toda para que cada um de nós realizasse saques. Foi interessante notar que apesar de ser o mesmo banco do Brasil, há uma imensa burocracia para tirarmos dinheiro no exterior. Primeiro, o rapaz do banco passou o nosso cartão e mostrou o saldo da conta na tela (em reais). Depois ele pegou a calculadora e transformou para reais a quantia em dólar que queríamos sacar. Vale lembrar que podíamos sacar em dólares ou bolivianos.

No meu caso, que tinha pouco dinheiro e queria sacar tudo, tive que achar um valor em dólar que equivalesse a maior parte de meus reais. Havia também uma pequena taxa para o saque, que nem me lembro quanto era. Em seguida, o atendente pegou um calhamaço de formulários e foi preenchendo várias e várias guias. No meu caso fiquei pensando se valia à pena para o banco gastar tanto em papel para um saque tão pequeno.

Depois de centenas de autógrafos, era a vez de pegar a fila do caixa e por a mão na grana. Parece que o BB de La Paz não é muito popular entre os bolivianos, pois em todo o tempo que ficamos lá foram poucas as pessoas que passaram pelo caixa. Acredito que a filial do banco deva ter o foco voltado a assuntos maiores, como as tantas refinarias de petróleo e unidades de extração de gás natural que a Petrobrás possui por lá.

No fim de todo este processo comecei sentir alguma coisa por dentro e não era amor. Meu estomago começou a reclamar de alguma coisa que não sabia o que era. A sensação começou a aumentar e, quando deixamos o banco, decidi não prosseguir o passeio com o restante da turma. Foi então que a Marina me lembrou do chá de coca, muito bom para problemas estomacais. Numa situação de ‘urgência’, qualquer coisa é válida.

A Marina me acompanhou até um pequeno restaurante ali perto, onde pedi uma um copo de chá. Era a minha primeira vez diante do polêmico mate de coca. No primeiro gole senti o gosto que já imaginava (lembre-se que já tinha mascado folhas no Salar de Uyuni). Fui tomando aos poucos para não ter nenhuma reação adversa.

O chá me deu um pequeno alívio momentâneo, mas preferi voltar para o hotel. Marina se ofereceu para me acompanhar, mas lhe disse que não era necessário. O caminho era formado por várias ladeiras, já que nós tínhamos só descido até o momento. Pensei em pegar um táxi, ou uma vanzinha, mas a dor começou a amenizar e subi a pé mesmo. No hotel, segui para o quarto e repousei o resto da tarde.

Era e não era o que queria. Mesmo muito cansado e com todo a cama para mim, lamentava o tempo que estava perdendo lá, ao invés de conhecer a cidade. Contudo, não havia nada a se fazer. Dormi um pouco e acordei no final da tarde. Já melhor, decidi fazer valer pelo menos o final do meu dia e sai para comprar a camisa do The Strongest. Rodei a ladeira das lojas esportivas em busca da camisa original, mas me recomendaram voltar até a rua do hotel e procurar numa loja grande que lá havia.

Modéstia à parte, como bom reconhecedor de camisas piratas, não me empolguei com a que eles me ofereceram. Nesta hora, porém, percebi que talvez não encontraria uma 100% oficial em nenhum lugar, já que a realidade boliviana permite que eles comprem apenas as genéricas. Como a camisa era boa(a melhor que achei) e barata, resolvi não arriscar e levei.

Não conseguimos reunir o ‘grupão’ de novo para jantarmos a noite. Alguns já haviam ido embora e os outros haviam sumido. Tentamos seguir a sugestão de restaurante dada por um deles no dia anterior, mas acabamos nos perdendo. Com fome, arriscamos ao entrar em um que não estava com cara muito boa. Me arrependi o resto da viagem.

Como meu estômago não havia se comportado bem, decidi comer algo leve, e escolhi uma omelete. O problema é que veio com tanto óleo que era melhor não ter comido. Já bem recuperado, arrisquei. O restaurante era tão desestruturado, que os garçons eram duas crianças. Esqueceram o pedido da Marina, e ela acabou não comendo lá (por sua sorte). No final, as crianças se reuniram e ficaram uns vinte minutos preparando a conta do nosso lado. Preciso dizer que não tinha ninguém mais além de nós?

Voltamos ao hotel para dormir mais cedo. Logo de manhã visitaríamos as ruínas de Tiahuanacu (Tiwanacu), uma civilização muito antiga, ascendente dos incas. O plano inicial era irmos embora de La Paz logo após esta visita, já que as ruínas ficavam no caminho para Copacabana, nossa próxima parada. Contudo, pelas informações que obtivemos na agência de turismo do hotel, não era muito seguro rumar para lá no final da tarde, já que no caminho é necessário cruzar por balsa o estreito de Tikina, no lago Titicaca. Como tínhamos um dia sobrando no roteiro, achamos melhor gastá-lo neste momento, ficando mais uma noite em La Paz.

Mapa do Caminho - Dia 8

Data: 11/06/2007
Cidade: La Paz, Bolívia

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