quarta-feira, março 31, 2010

Segurança segura

Duas coisas me fariam viver na Europa para sempre: o baixo preço de carro, roupas, eletrônicos, enfim, bens duráveis, e a segurança. Esta última ainda me chama a atenção e consegue me impressionar profundamente todos os dias, mesmo depois de quase um ano no velho continente.

Mesmo em Londres, cidade que tem cerca de 7 milhões de pessoas, você não se sente nem um pouco inseguro. É maravilhoso poder sair do trabalho quase uma hora da manhã, ir para o ponto de ônibus, esperar tranquilamente, entrar, sentar, ir pensando na vida, totalmente distraído, descer em um bairro afastado, e ir caminhando para a casa sem preocupações.

Ontem ocorreu ainda um fato, comum por aqui, é verdade, mas que impressiona. Logo após descer do ônibus aqui perto de casa, às 1:20 da madrugada exatamente, vi uma mulher, sozinha, sacando dinheiro em um caixa eletrônico. Dois marmanjos passaram por trás dela no momento e ela não não demonstrou nenhuma reação de medo, ou de afobação. Simplesmente continuou a operação.

Infelizmente não podemos dizer o mesmo dos médios e grandes centros do Brasil. Mesmo de carro, a insegurança é frequente. Aqui, ao contrário, você pode andar tranquilamente à noite, bêbado, com 800 libras no bolso (cerca de R$2400,00) sem ficar tenso e nem incerto de que vai chegar bem em casa.

sábado, março 27, 2010

Dúvidas

Não demorou muito para conseguir um emprego aqui em Londres. Quando você procura qualquer coisa normalmente acha na primeira esquina. Foi o que aconteceu. Mas, não obstante as dificuldades do novo desafio, os últimos dias me encheram de dúvidas sobre os caminhos que devo seguir nos próximos meses.

Já não sei mais o que vale a pena e o que não. Ficar sem rumo é o que não dá. Apesar de ter passado dois meses em casa, logo logo completará um ano que estou nesta vida louca, sem ficar raízes de longo prazo em nenhum lugar. Isto cansa e me enche de dúvidas, porque a pergunta: "e aí?", fica no ar. E isto faz me lembrar que na vida não existe caminhos certos ou errados, e sim aquele que a gente constrói.

quinta-feira, março 18, 2010

Ah, as mudanças!!

Mal comecei fazer alguma coisa de útil, depois de um tempo na vida mansa, e eis que já ganho umas férias. Como assim? A minha escola de inglês para uma semana a cada três meses, e eu comecei o curso bem perto da 'entre safra'. Enfim, acho que o destino quer mesmo que eu descanse (rsrs!!) e vamos fazendo isto, até mesmo porque algo me diz que a correria está para começar.

Mas o que isto tem a ver com mudanças, pergunta o leitor sensato? Nada. As mudanças já vieram, e agora o que tenho que fazer é dar prosseguimento a nova vida que elas proporcionaram. Vendo, lendo e ouvindo, porém, me deparo com vários amigos assustados com mudanças, então achei que o tema vem bem a calhar.

Eu morro de medo de mudar. Taí uma afirmação pra lá de verdadeira. O problema é que eu tenho mais medo ainda de ficar estagnado. Então, de vez enquando, eu preciso fazer algumas mudanças na minha vida. Se elas são certas ou erradas, não consigo saber antes de executá-las. Mesmo porque se soubesse, é claro, pegaria o caminho certo. O que posso fazer é apenas seguir a minha intuição e meu coração.

Por que é tão difícil mudar? Porque mudar é dar a cara a tapa. É desistir de uma rotina onde você conhece o caminho. É abandonar uma vida, ou um estilo de vida, que te conforta, já que você faz tudo no automático, e partir para o desconhecido. É trocar o consolidado pelo incerto, não importa o tipo de mudança.

Então por que mudar? Na grande maioria das vezes é porque aquilo que você faz, o estilo de vida que você leva ou o que você costuma fazer não te alegra mais. Por mais que você tente não há como esconder a vontade interna pela mudança.

É necessário mudar? Não sei, depende da pessoa. Tem pessoas que conseguem se resolver sem mudar. Outras que vivem o resto da vida amargas porque não mudaram. Neste caso, quase sempre, falta coragem. Já que mudar é se expor, é entrar em um túnel escuro, é fazer algo que você não sabe onde vai dar, é não saber o que as pessoas vão falar, é não prever onde você estará daqui há alguns dias, meses ou anos, não são todas as pessoas que conseguem pegar outro caminho.

No meu caso, deixei a confortável vida que levava na casa dos meus pais, empregado, fazendo o que queria, na área em que queria, para uma 'aventura' em outro continente. Dúvidas? Milhares. Medos? Um monte. Riscos? Muitos. Garantias? Nenhuma. Parece até uma loucura colocando as coisas deste modo. Mas, às vezes, você percebe que não será completamente feliz se não fizer uma mudança na sua vida. E quando isto acontece eu prefiro mudar do que envelhecer sem saber como teria sido.

Não é fácil. Você ter que lidar com tudo novo, nova vida, novas atitudes e novas pessoas. Ainda vivendo aterrorizado com que as pessoas vão falar se as coisas não derem certo. Ou o que vão falar se derem certo. No caminho muitas dúvidas e incertezas. Vontade de voltar atrás, algumas vezes.

Uma coisa posso dizer: já ralei muito (e vou ralar ainda mais) devido a minha decisão de mudar de país e de vida. Mas mudar é sempre abrir mão de algo em troca de outra coisa maior. Ou seja, se a gente rala, também há o lado positivo. Este compensa tudo. E se no fim nada der certo, pelo menos vou poder sentar na mesa de um bar com os amigos, sem qualquer tipo de amargura, mas feliz, com um copo de cerveja na mão, e contar diversas vezes a história que as mudanças proporcionaram na minha vida. E, discontraído, pelo menos, vou sempre poder dizer: - eu tentei!

sexta-feira, março 12, 2010

Londres depois de um mês

É noite. Madrugrada para falar a verdade. Acabei de comer um congelado comprado por uma libra (cerca de 3 reais) no supermercado. Estou no meu quarto sozinho, dando un rolé básico pela internet. Lá fora, pela janela, tudo está escuro, o céu cor-de-rosa, carregado. As árvores estão sem folhas, tipico de final de inverno aqui no hemisfério norte.

Enfim, esta é minha situação atual, um mês depois de desembarcar em Londres. Confesso que a vida está até muito mais tranquila do que achei que seria. Como aqui é um centro onde as pessoas chegam buscando muito trabalho, parece que todos levam uma rotina agitada. Não é verdade.

O centro da cidade é agitado, como de qualquer metropole. Os bairros, porém, são muito tranquilos, dando a impressão, às vezes, de estarmos em uma cidade no interior de Goiás.

O melhor de morar em Londres é justamente isto. Ter tudo ao nosso alcance, sem a loucura dos grandes centros brasileiros. Aqui tem uma igualdade social muito maior, emprego para todos (e para todos os níveis de escolaridade), muita opção turistica e cultural, várias possibilidades de instrução. As pessoas não vivem inseguras como no Brasil (só, as vezes, em relação ao terrorismo), já que a violência aqui é mínima. Ou seja, um lugar muito bom para morar.

O tranporte público é excelente. É até engraçado, porque hoje o meu professor de inglês, que é londrino, falou na sala de aula que o transporte aqui era muito bom. Achei estranho. Fui procurar nas minhas memórias e percebi que nunca tinha ouvido ninguém falar que o transporte da sua cidade era bom. Pois é. Coisa de brasileiro.

São só algumas primeiras impressões. Veremos quais delas se consolidarão ao longo do tempo, e quais eu terei que mudar nos próximos meses.

sábado, março 06, 2010

Em busca do palhaço

Era noite. Já se passavam das 11 horas quando chegamos ao aeroporto. Estava frio, como de costume, mas nada comparado ao que eu havia me deparado, e sofrido, dois dias antes. Mesmo porque dentro do prédio a temperatura se mantém. O problema era fora.

O embarque só seria às quatro da manhã, o que nos daria tempo. Muito tempo, para falar a verdade. Melhor chegar cedo do que tarde. Ainda mais quando o vôo é internacional e o embarque é em Londres, onde as pessoas são todas muito psicas com segurança.

Naquela hora o problema principal era comida. Ou melhor, a falta dela. Pasmem todos, mas o maior aeroporto da Inglaterra tem apenas uma lanchonete que funciona 24 horas. Aliás, este tipo de comércio não é forte na Europa. Em Londres ainda se pode achar alguns estabelecimentos abertos durante a noite toda. Já na Itália é raríssimo.

Queríamos comer bem (em quantidade, dentro do possível), com o menor gasto de libras. Resposta certa: fast-food. Onde? Eis o problema. Topei o desafio de ir encontrar um Burger King ou um Mc Donald's em um dos cinco terminais de Heathrow.

Para me auxiliar, levei o meu inseparável celular. Novo celular, é verdade, que comprei aqui, com tecnologia 3G, quando percebi que o meu velho companheiro de batalhas não funcionaria mais com estes novos chips. Entrei na internet e busquei a localização de um BK. Me informaram terminal 3. Lá fui eu.

Depois de muito, muito e muito caminhar pelas passagens subterrâneas, elevadores e escadas rolantes, para cima, e para baixo, chego no destino e percebo que tudo, absolutamente tudo, estava fechado. Parecia um front de guerra depois de uma batalha. Isto porque havia muitos corpos espalhados pelo chão. Pessoas que dormiam, esperando pelo chamado, que deveria ocorrer nas primeiras horas da próxima manhã.

Procurei novamente no celular. Descobri que dentro de Heathrow não há fast-foods. Pelo menos é o que informa o site oficial do aeroporto. O que fazer? Como não conseguia realizar uma busca eficiente no site do BK, optei pelo o do Mc Donald's. Descobri um 24 horas logo ali fora, há pouco mais de um quilômetro. Era a nossa única chance.

A região era completamente desconhecida por mim e, nesta hora, já se passava da meia-noite. A única coisa que sabia é que estava em um emaranhado de tuneis e caminhos que levavam por lugares desconhecidos. Tudo ali era gigante e longe. Sair de lá já seria uma maratona. Mesmo assim topei o desafio de ir tentar buscar este lanche, DEUS sabe onde.

Decidi dividir o meu problema em etapas. A primeira era sair do aeroporto e chegar na avenida indicada no meu celular. Para isto precisaria de um ônibus. Fui seguindo as placas até o Central Bus Station, na esperança de pegar algum transporte 24 horas.

Nesta área, porém, Londres é muito bom. Havia vários ônibus por ali, que funcinavam a noite toda. O problema era só achar o certo. Antes de conseguir procurar na internet, eis que para um bem na minha frente. Vi o número da linha, pensei um pouco e entrei. "Ah, o máximo que pode me acontecer é ter que descer, atravessar a rua e pegar ele voltando", raciocinei.

Mas, por sorte do destino, ou proteção divina, não é que ele foi exatamente para onde precisava? E ainda bem que não decidi ir a pé. Não sou louco. Em grandes aeroportos, sair do complexo já é uma grande viagem.

Desci dois pontos depois, logo depois que vi o grande 'M' amarelo. Corri logo em sua direção, em meio ao frio de aproximadamente zero graus, mas logo percebi que estava fechado. Antes do desespero, notei uma faixa que indicava '24 hours drive-throu'. "Ah, vão me atender, nem que tenha que entrar na fila junto com os carros", decidi.

Por sorte não precisei fazer isto. Logo ao lado havia uma janela com atendimento 'walk up', ou seja, para pobres sem carros, como eu. Alegre por conseguir chegar sem erros, passei logo a pensar na segunda etapa: como levar três lanches completos com apenas duas mãos?

O problema maior eram as bebidas. Pedi então uma sacola adicional. O rapaz que atendia não entedeu bem, e ensacou duas vezes o lanche, me dando um suporte para levar os copos. Não conseguiria levar naquele suporte, então, logo que saí, parei em uma mesa externa para colocar os copos dentro da sacola extra.

Ventava muito no momento, e a sacola voou. Sai desesperado atrás da minha única esperança de conseguir carregar tudo. Consegui. Com três sacolas lotadas em mãos fui para a terceira etapa, a volta.

Atravessei a via expressa em meio a muito frio e logo vi o ponto de ônibus. Enquanto analizava o intinerário dos ônibus, eis que o meu passa rápido e nem para. Parar pra que, só tinha eu no ponto? O jeito é esperar o próximo.

Podia pegar várias linhas, mas havia algumas que não podia nem pensar em entrar. Esperei, um, dois, cinco, oito, dez minutos sem nenhum sinal de nada. O frio já penetrava nos meus braços, pernas e rosto. O calor dos hamburguers subia do saquinho e dava um alentos às mãos.

Eis que vejo um ônibus vindo. "Vou ficar atento ao número", pensei. Quando consegui identificá-lo, fiquei na dúvida. Em situações como esta a dúvida é imperdoável. Era um dos meus, mas passou que nem um foguete. Em seguida, vi um outro vindo. Cansado de ficar lá naquele lugar congelante, não pensei duas vezes. Dei o sinal mesmo sem saber. Pensei que não ia parar também, mas o motorista foi gente fina e, mesmo passando do ponto, parou lá na frente. Corri e entrei.

Por sorte, ou proteção divina novamente, ele votaria ao aeroporto. Em poucos minutos estava de volta aos corredores, e escadas. Cheguei vitorioso de volta ao saguão, pouco mais de uma da manhã.

Depois do lanche (Finalmente!!!!!) conversamos e fizemos piadas sobre um indiano (ou coisa parecida) que limpava o terminal a bordo de um carrinho e, ele, pensava estar na Formula 1. Por várias vezes, quase me atropelou.

As quatro e pouco o check-in abriu e despachamos as malas. Destino? São Paulo, Brasil. Fomos até o portão de embarque onde nos despedimos do nosso amigo Marcio. E lá foi ele passar as suas férias no país tropical. Já eu e Eric, demos as costas, fomos até a bus station e iniciamos a viagem de volta para a casa.
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