sábado, junho 21, 2008

Dia seguinte

Não havia bebido, mas acordei com ressaca devido à carga de emoções do dia anterior. Os próximos passos da nossa jornada também ajudavam a ficar em um estado de ‘final de festa’ já que ao nascer do sol entrávamos na terceira e última parte da viagem. Sem ter mais Machu Picchu como foco, agora pensávamos em Lima, a capital peruana, e na volta para casa.

Era uma quinta-feira, mas o dia tinha cara de domingão brabo. As horas passavam devagar e na simples cogitação de fazer qualquer coisa reinava uma preguiça total. Tomei café da manhã e logo lembrei que a Marina havia nos deixado. Por causa de um problema particular, ela voltou mais cedo para casa, pegando um vôo logo de manhã. O quinteto passou a ser quarteto.

A nossa missão, a partir daquele momento, era chegar até Lima. O problema é que se comprássemos uma passagem direto para lá, viajaríamos por uma longa estrada de terra pelos Andes, com previsão de 24 horas dentro do ônibus até a capital. Isto a na teoria, porque como a estrada era ruim as chances do ônibus quebrar no meio do caminho eram grandes. Sem contar na poeira e no risco.

Desta forma, quando planejamos a viagem, decidimos que iríamos até Arequipa, no sul do país, e de lá seguiríamos pela rodovia panamericana, margeando o oceano pacífico, até Lima. Fomos então em busca de um meio rápido, fácil e eficiente de chegar até Arequipa. E encontramos. Sem querer fazer propaganda, mas já fazendo, descobrimos a companhia de ônibus Cruz del Sur, que é melhor do que qualquer outra que já tive a oportunidade de experimentar no Brasil. A preços módicos a gente teve um serviço de primeira. E olha que estávamos falando de duas viagens grandes (Cuzco-Arequipa e depois Arequipa-Lima).

O nosso ônibus sairia às oito e meia da noite, então tínhamos todo o dia em Cuzco. Almoçamos e à tarde a preguiça voltou a bater. Era uma sensação estranha de preguiça, cansaço e vontade de voltar para casa. Parece que finalmente caí na real de que a vida continuaria depois da viagem, e passei a lembrar de Goiânia e de meu trabalho.

Acho que a ressaca emocional era geral, de todos nós. Estávamos muito felizes do que vimos no dia anterior, mas, ao mesmo tempo, sem atrativos. Então, a Lorena achou um joguinho na Internet, de ficar adivinhando o nome do filme pela música, e jogamos a tarde inteira. Hoje bate um pequeno arrependimento, já que poderíamos ter usado melhor aquele tempo, mas logo me consolo que não tinha outro jeito. Tem hora que você é mais feliz fazendo algo que lembre o seu dia-a-dia do que qualquer visita a qualquer lugar do mundo.

A tarde foi chegando ao seu final, e então saímos para comemorar a bem-sucedida passagem por Cuzco e Machu Picchu. Encontramos um bom barzinho perto da Plaza de Armas e fomos beber um pouco. Eu e o Rodrigo pedimos Pisco, a tradicional bebida peruana. Como eu fui mais mão de vaca e pedi um drink mais barato, acabei achando o dele mais gostoso. De qualquer forma, Pisco é uma bebida que vale a pena provar quando se está no Peru. Tanto que levei uma garrafa para casa.

Já estava anoitecendo quando voltamos ao hotel pela última vez. Arrumamos todas as nossas coisas, fechamos a mochila e nos despedimos do quarto que foi a nossa casa durante os dias que passamos na capital Inca. Cuzco, sem dúvida nenhuma, deixa saudades. Principalmente por ser uma cidade carregada de cultura. Foram cinco dias praticamente sem parar no hotel e, mesmo assim, deixamos a cidade com muita coisa ainda para ver, visitar e sentir. Se você estiver planejando uma viagem a Cuzco, siga o meu conselho – reserve uma semana inteira para a cidade e região (sem contar Machu Picchu).

Pegamos um táxi e seguimos para a rodoviária. Bem no horário, lá estava nosso ônibus, grande, de dois andares, pronto para pegar estrada. Logo que entramos vimos que tínhamos acertado em viajar com aquela companhia. O ônibus era muito bem conservado, poltronas novas e bem limpo. Assim que começamos a rodar, um homem bem uniformizado passou a andar pelo corredor e a mexer em vários compartimentos que havia atrás, bem ao lado da porta do banheiro.

Era um rodo-moço. Nunca tinha visto um em linhas tradicionais, aqui no Brasil. E lembrar que alguns de nós não sabiam que havia alguém para servir e, logo que entramos, foi lá mexer nas coisas do cara e pegou um copo de chá. Ainda bem que ninguém viu. Diferentemente das companhias de trem, todo o serviço dentro do ônibus já estava incluído no preço da passagem.

Em uma hora de viagem, veio a surpresa maior. O rapaz ligou o sistema de som do ônibus e anunciou a cena (janta). Distribuiu para todos uma bandeja com comida, da mesma forma que em um avião. Só que o rango era bem mais gostoso. Além da comida - arroz, uma tortinha, bife, legumes e outros - também havia uma pequena sobremesa.

Com a barriga cheia, as surpresas continuaram. Logo após ajeitar tudo, o atendente anunciou um jogo de bingo. Isto mesmo, bingo, valendo uma passagem de volta para quem fechasse a cartela. É claro que nenhum de nós acabou tendo sorte o suficiente, mas foi uma boa distração. O melhor da noite, ainda, foi que o ônibus estava vazio, ou seja, pudemos dormir ocupando dois lugares que, por sinal, contavam com poltronas muito confortáveis. Uma compensação para quem teve que agüentar oito horas naquele trem até Aguas Calientes.

A maior parte do caminho até Arequipa foi voltando na mesma estrada em que fomos de Puno a Cuzco. Assim que chegamos a Juliaca, a poucos quilômetros de Puno e do Lago Titicaca, tomamos a direção do litoral até o destino final. Descemos um pouco também, já que Arequipa já fica na parte de declive dos Andes, a 2.400 metros acima do nível do mar.

Logo depois do habitual filme (isto não tem jeito, todas as companhias passam), caí no sono. Abri os olhos algumas vezes durante a noite, mas só fui realmente acordar quando chegamos na rodoviária de Arequipa.

Mapa do Caminho - Dia 18

Data: 21/06/2007
Saída: Cuzco, Peru
Chegada: Arequipa, Peru
Distância percorrida no dia: 513 km
Empresa de ônibus: Cruz del Sur
Duração da viagem: +- 10h
Tarifa: s/ 75,00 (R$ 48,40 na época)

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