quarta-feira, junho 04, 2008

Na Fronteira

No post anterior eu acabei escrevendo mais do que planejava. Contudo, não há como falar da viagem de Goiânia a Campo Grande sem contar que fomos ao lado de um grupo de pagodeiros nordestinos, que iam fazer um show em Dourados (MS). Aliás esta é uma característica da linha Brasília - Assunção. Por ser muito longa, acaba atraindo passageiros com destinos e propósitos completamente diferentes.

Se você for para Campo Grande, minha sugestão é que não pegue este ônibus, mas sim a linha direta entre Goiânia e Campo Grande, da Expresso São Luiz. Já viajei neste também, e digo que é mais sossegado. A turma do pagode não foi um problema tão grande, mas acabou estorvando um pouco, principalmente de manhã. Quando a viagem passou das dez horas, as intermináveis conversas entre os membros e o vai-e-vem entre as poltronas do ônibus fizeram com que eu desejasse chegar a capital sul-matogrossense o mais rápido possível.

Vale lembrar que o grupo ocupou grande parte das poltronas e entupiu o bagageiro inferior (um dos motivos do nosso atraso, em Goiânia). Como se não fosse o bastante, alguns integrantes falavam por meio de ecos. Não ficavam feliz em chamar uma pessoa pelo nome, como, por exemplo: "Ei, Vladimir!". O faziam desta maneira: "Ei, Vladimir-ir-ir-ir". Mas também ganharam um ponto extra de paciência comigo por terem se comportado bem durante a noite.

Chegamos a Campo Grande por volta das oito da manhã. Como nosso próximo ônibus saía apenas às 10:30, resolvemos procurar algum lugar para tomar café-da-manhã. Foi então que tive o primeiro contato com o peso da minha mochila. Engraçado que quando vemos fotos de mochileiros carregando suas mochilas, não pensamos o tanto que é desagradável carregá-la cheia de coisas (rs). Colocamos a dita cuja nas cotas (suspiro) e deixamos a rodoviária.

Para quem não conhece Campo Grande, é bom explicar que a sua rodoviária parou no tempo. É resultado de um projeto velho de rodoviárias, onde os ônibus se movimentam embaixo (tipo um sub-solo, mas aberto às ruas), enquanto que os guixês ficam na parte de cima. Soma-se ainda o precário estado de conservação que o prédio se encontra, multiplicando pelo fato que não há nenhuma lanchonete ou restaurante que valha a pena.

Desta forma, fomos procurar algum lugar decente nos arredores. Encontramos uma boa padaria, não muito longe dali. O problema foi carregar a bagagem. Era o primeiro dia, e os meus músculos ainda não estavam acostumados com o esforço. Além disto, andamos mais que o dobro do necessário, perguntando daqui, procurando dali. Após alguns salgados na barriga, voltamos.

Quando chegamos novamente na rodoviária, já eram dez horas. O nosso ônibus já esperava na plataforma. Que bom! Corri em sua direção, não vendo a hora de despachar a mochila. Apenas o primeiro 'sofrimento' de muitos, rs. Entramos, e ficamos esperando a partida, rumo aos últimos quilômetros de Brasil.

Foi muito bom me deparar com um ônibus mais novinho e limpinho do que o da Nacional Expresso. Aliás, tenho um pouco de birra com esta empresa. Pela sua grandeza, deveria ser bem melhor. A minha opinião foi justificada no Peru, mas esta é outra história que conto nos próximos capítulos.

A medida que deixávamos Campo Grande para trás, o Pantanal começava a mostrar a sua cara. Não foi um dia muito feliz para ver animais pela janela do ônibus, mas deu para observar alguns tucanos e outros tuiuius. Fora isto, a estrada de Campo Grande a Corumbá causa ansiedade. Não há grandes cidades e a distância de uma para outra é muito grande. Paramos em Miranda, pra lá das duas da tarde, para almoçar.

Foi a primeira (e última) vez que minha mãe me ligou (porque o telefone não pegou mais depois da fronteira). Queria saber se eu já havia chegado a Corumbá. Estávamos na metade do caminho ainda. A sua previsão, porém, não era absurda. Isto porque o planejado era pegar um ônibus mais cedo, em Campo Grande, mas o atraso do primeiro trecho nos impediu. E mais um atraso no segundo trecho, fez com que chegássemos à fronteira já no cair da noite.

Só para constar, toda vez que estou chegando a Corumbá me impressiono com algumas montanhas que há ao lado da estrada, há poucas dezenas de quilômetros da cidade. Acho muito bonitas. Descemos do ônibus e o clima de Bolívia já começou a dominar o ambiente. Vários 'operadores turísticos' nos abordaram perguntando se iríamos pegar o famoso Trem da Morte, até Santa Cruz de la Sierra. É claro que o tamanho das nossas mochilas entregava que éramos turistas, e isto fez com que a insistência crescesse. Não dei moral para nenhum deles e distribuí vários: "Não, obrigado!".

Só que ao chegar ao albergue, não pudemos mais disfarçar. Precisávamos das passagens para a cidade boliviana e, naquele momento, tinhámos duas opções. Ou esperávamos até o dia seguinte, para ir a Puerto Quijarro (cidade fronteiriça, de onde saem os trens) comprá-las, ou íamos atrás dos 'agentes'. Dois fatos acabaram pesando na nossa decisão em optar pelo segundo caminho - se deixássemos para o dia seguinte podería não sobrar mais nenhum bilhete, e isto seria fatal para o nosso planejamento já que perderíamos um dia inteiro na fronteira e, certamente, não chegaríamos a Uyuni a tempo para o nosso passeio (já reservado) no Salar. Além disto a recepcionista do albergue nos garantiu que indicaria uma pessoa de confiança para fazer a venda.

Fomos até a 'agência de turismo', uma salinha que não cabia mais do que quatro pessoas. Lá encontramos o Alberto (nome fictício) que tirou uma cópia de nossos passaportes e cobrou R$ 50,00 por cada passagem. Como éramos um grupo grande, ficou de nos arrumar um meio de transporte até a fronteira de fato (uns 5 km de Corumbá). Enquanto fazia as cópias, começou a nos contar histórias do caminho que íamos fazer. Nos recomendou cautela: "Cuidado com os bolivianos que oferecem serviços". E eu lhe disse: "Não dou bola, digo 'não', viro a cara e sigo o meu caminho". E ele emendou: "Que nem você fez comigo lá na rodoviária, né?". Foi daí que me lembrei que tinha passado por Alberto na nossa chegada a cidade e aprendi uma coisa - em Corumbá, turista nenhum passa despercebido.

Mapa do Caminho - Dia 2

Data: 04/06/2007
Saída: Campo Grande (MS), Brasil
Chegada: Corumbá (MS), Brasil
Distância percorrida no dia: 435 km
Empresa de ônibus: Viação Andorinha
Duração da viagem: +- 6h30
Tarifa: R$ 64,00

3 comentários:

Maria Cristina disse...

Estou adorando as histórias!!!

Dani disse...

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