segunda-feira, junho 16, 2008

Em Cuzco, a capital Inca

Não demorei muito para cair no sono depois que o nosso ônibus deixou Puno rumo a Cuzco, antiga capital Inca. As nossas poltronas eram as últimas do ônibus, o que nos rendeu uma noite não muito agradável, já que ali chacoalhava demais. Mesmo assim o cansaço da maratona em Puno uniu-se ao acumulado da viagem e me manteve nas condições ideais de curtir um bom sono dentro do ônibus.

Dormi todo o caminho, a exceção de três momentos muito irritantes, quando o ônibus parou em plena rodovia e ficou um bom tempo até voltar a rodar, como o motorista fazendo sei lá o que. A segunda parada foi a mais longa e que mais me incomodou. Havia uma luz no ônibus que acertava bem os meus olhos, e não desligava enquanto ele não fosse colocado em movimento. Assim permaneceu uns 40 minutos.

Tenho certeza que toda a pessoa que um dia sonhou estar em Machu Picchu sentiu uma emoção diferente ao entrar em Cuzco. A mim não foi diferente. O detalhe é que chegamos na cidade Inca às quatro horas da manhã, em meio a um frio penetrante e um ambiente deserto. Cuzco fica às moscas de madrugada.

Para agravar a situação, eu estava na melhor parte do meu sono e, quando desembarquei ainda estava muito sonolento, meio tonto. Ao mesmo tempo em que uma parte do meu cérebro dizia: “Nossa, você está em Cuzco!”, a outra insistia: “Zzzzzzz...”. Deixamos a rodoviária e fomos até o ponto de táxi mais próximo ver se conseguíamos um bom preço para a corrida até San Blás, bairro histórico da cidade.

No meio deste clima ainda havia uma pendência. Como as nossas colegas haviam ido à frente, não sabíamos se elas realmente estavam no hotel que reservamos. Como não havíamos feito adiantamento de dinheiro, elas cogitaram a possibilidade de tentar outro lugar. Eu e o Rodrigo não titubeamos e seguimos para o hotel reservado (em San Blás), mas se elas não estivessem lá e, conseqüentemente, não tivessem avisado sobre a nossa chegada às chances de encontrarmos uma porta “cerrada” era muito grande.

Assim como todas às vezes que estava tonto de sono e sem paciência, não insisti muito para que o taxista abaixasse o preço. Lembro-me de ter ouvido ele falar que San Blás era longe. Já no caminho, vi uma cena que nunca mais vou esquecer para o resto da vida. Saindo da rodoviária, há uma rotatória com uma estátua do Inca, bem no centro da circunferência. O detalhe é que a estátua é bem alta, o que a torna intimidadora. À noite, com a iluminação amarela batendo de frente e somando-se ao meu estado de pouca consciência, aquilo se tornou a oitava maravilha do mundo. O fato de estar chegando em Cuzco deu mais ênfase ao momento. Dá para imaginar o desapontamento quando, outro dia(de dia e bem acordado), passei no mesmo lugar e vi que a estátua nem era tão bonita assim?

Chegando a Plaza de Armas (a praça principal), pude ver as montanhas que cercam Cuzco, cheia de lusinhas amarelas como se fossem uma grande árvore de Natal, sinalizando que há muitas casas ali nas encostas. Foi outra visão marcante. Sem nenhum carro, ou sequer uma alma viva, na rua, o táxi fazia questão de ir bem rápido. O problema é que as ruas da cidade são muito estreitas e, vire e mexe, ele precisava parar o carro de uma vez para poder fazer uma curva, ou mudar de direção. Me senti como se estivesse dentro do ‘Noitebus Andante’ do terceiro Harry Potter.

Chegamos a San Blás, chegamos ao hotel. Ele ficava bem no final de uma ‘rua’. A principal dúvida em chamar aquilo de rua era a forma estreita como fora construída. Mal passava um carro por vez, e a rua ainda era de sentido duplo. Coisa maluca.

Estava na hora de ver ser permaneceríamos no meio do frio até as sete da manha, quando, com sorte, alguém abriria a porta do hotel, ou se conseguiríamos entrar. Já que tínhamos ido um dia antes (pelo plano original nós dormiríamos em Puno e só seguiríamos a Cuzco no dia seguinte), também não sabíamos se eles teriam algum quarto livre para aquela noite.

A porta era de madeira grossa, bem antiga, no estilo dos casarões da Cidade de Goiás. Havia, bem no centro dela, uma portinhola que servia para a pessoa de dentro ver quem era antes de abri-la. Batemos forte, com o coração na mão. Demorou um pouco, antes de alguém espremer a cara pela portinhola. Sem que nos desse a oportunidade de fazer qualquer pergunta, a pessoa do outro lado nos questionou: “Son los brasileños?”. Ah, não sabe como isto nos aliviou dos pés a cabeça.

O rapaz do hotel abriu a porta e nos atendeu de madrugada com sorriso no rosto. Aliás, é uma característica dos andinos ser um povo muito simpático. Nós, porém, não queríamos saber de nada, entramos no quarto, deitamos na cama e demos prosseguimento ao nosso sono.

Foi uma das poucas vezes que acordei tarde em toda a viagem. O relógio já marcava mais de dez da manhã, quando me levantei e lembrei de tudo o que se passara até chegar ali. Quando sai do quarto, encontrei todo o grupo novamente reunido, tomando café. Juntei-me a eles e começamos a trocar histórias, de tudo o que se passou desde que nos separamos.

Saímos do hotel e fomos conhecer a cidade. Cuzco é muito bonita, com várias montanhas em volta, e belas construções hispânicas. A Plaza de Armas é um lugar de deixar qualquer amante da história de boca aberta. Na parte mais antiga as ruas são estreitas, mas também há na cidade algumas avenidas mais largas. Tudo gira em torno da praça principal, onde fica a maioria dos hotéis, agências de turismo, casas de câmbio e restaurantes.

A tarefa do dia foi procurar a agência onde reservamos o passeio de Machu Picchu para os últimos ajustes, além de verificar outros passeios que valessem a pena. Descobrimos que dois deles eram obrigatórios: a visita ao vale sagrado dos Incas e o city-tour.

Na hora do almoço optamos por uma casa de massas muito boa, localizada na praça. Escolhi um raviolli de frango com molho quatro queijos que me lembro até hoje. Para beber, decidimos experimentar a famosa Inka Kola, um refrigerante local muito famoso entre os peruanos. Ou melhor, era local, desde que a Coca-Cola sentiu que a concorrência era forte e comprou a empresa. Tem sabor de tuti-fruti, mas nada que possa competir com os nossos tradicionais.

Pela tarde, fomos pesquisar os preços dos passeios em várias agências. Fechamos com uma que fez um preço especial pelos dois. Um pouco antes, visitamos a agência de turismo que nos levaria a Machu Picchu e marcamos uma reunião com o nosso futuro guia, para ele nos passar as instruções. À noite saímos para jantar, mas voltamos logo para o hotel já que a visita ao vale sagrado estava marcada para o dia seguinte bem cedo, e duraria todo o dia.

Mapa do Caminho - Dia 13

Data: 16/06/2007
Saída: Puno, Peru
Chegada: Cuzco, Peru
Distância percorrida no dia: 338 km
Empresa de ônibus: Imexso
Duração da viagem: +- 8h
Tarifa: sem informação

Um comentário:

Maria Cristina disse...

Oito horas para 300 quilômetros? Vcs são de ferro! Hj vc podia ter adiantado um dia ne, eheheh, to curiosa!

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