terça-feira, junho 10, 2008

Na capital boliviana

À medida que a nossa jornada prosseguia, notei que podíamos dividí-la em três partes. A primeira foi a ‘corrida’ de Goiânia até Uyuni, a fim de chegarmos na data certa de pegar o trem, fazer o passeio e voltar sem que isto atrasasse o cronograma. Esta etapa se encerrou assim que tomamos o trem de volta a Oruro. A segunda compreendeu a visita ao altiplano dos Andes (La Paz e Lago Titicaca) até às ruínas de Machupicchu, no Peru, e começou assim que abri os olhos e notei que havia dormido todas as sete horas de viagem voltando de Uyuni. Já estávamos novamente em Oruro, cidade que, volto a dizer, ficou marcada mais por pontos negativos.

Estava totalmente tonto de sono. Por mim, dormiria mais sete horas tranqüilamente, dentro daquele trem. Desci sem muita noção de onde estava, e quando olhei ao redor vi que não estava perdido sozinho. Todas as nossas caras diziam que nenhum de nós deveria esta de pé naquele momento. Só que, obviamente, era obrigação. A nossa segunda passagem por Oruro seria bem rápida. Tomaríamos um táxi até à estação rodoviária (que saudades da estão bimodal de Santa Cruz), onde pegaríamos um ônibus até La Paz, a capital dos bolivianos.

Na porta da estação ferroviária, taxistas se aglomeravam em busca de passageiros. Abordamos um deles e fizemos uma proposta. O rapaz negou contundentemente e cobrou um preço muito alto, algo raro já que a maioria dá um sorrisinho sem graça e tenta negociar para não perder o cliente. Acho que foi por isto, e pelo nosso estado, que Rodrigo virou a cara de uma vez e saiu resmungando. E Eduardo meio tonto só pensava em sair dali. Principalmente porque não via a hora de me escorar para dormir de novo.

O grande problema é que não podia fechar os olhos e torcer que tudo se resolvesse sozinho. Não fugiria da responsabilidade de arrumar um táxi. Graças a DEUS, o segundo taxista fez por um preço camarada (não tão baixo como poderíamos conseguir se tivéssemos inteiros) e embarcamos.

O pouco que me lembro foi que logo ao desembarcar miramos para um guichê de companhia de ônibus. Lá eles informaram que havia um ônibus para La Paz que sairia em vinte minutos. Como o preço não era ruim (também poderíamos abaixá-lo, mas...) não demoramos a comprar as passagens. O ônibus já estava à espera, bem na nossa frente. Era velhinho, mas estava em ótimas condições. Despachamos a bagagem e entramos.

A viagem era curta, cerca de quatro horas. Quando o ônibus começou a rodar, tentei lutar contra o sono para poder acompanhar a viagem pelo altiplano, contudo não consegui. Mais uma vez adormeci. Acordei algumas vezes, mas só fui retomar verdadeiramente a consciência quando já estava perto da rodoviária da capital.

Uma das coisas que faz o nosso humor ir lá para baixo é o sono mal dormido. Por melhor que seja uma noite de sono sentado em um trem, ou ônibus, sempre é uma noite ruim. Quando pisamos em La Paz pela primeira vez, nosso humor estava péssimo. O que está ruim, porém, pode ser ainda pior. Logo na saída do ônibus, tentei economizar tempo tirando rapidamente meu lindo guia de mochileiros, novinho em folha, da minha mochila, mas ele saiu do controle de minhas mãos, quicou em meu braço e foi cair numa possa de óleo, com mais algumas coisas (cheirava a urina), logo ali na plataforma. O meu mundo caiu. Queria jogar o livro fora, sorte que o Rodrigo conseguiu me convencer.

Pegamos o táxi até o hotel pré-selecionado. Como parecia bom, fechamos a questão. Iríamos permanecer duas noites ali. É engraçado notar que quando se está na altitude, o fato do quarto se situar nos últimos andares é motivo de desvalorização, principalmente se o prédio não tem elevador. O hotel o aluga pelo mesmo preço, claro, mas as pessoas tentam evitarem o máximo. O nosso era no segundo andar, e o das meninas era no terceiro. Parecia, porém, que o segundo ficava no décimo. Vale lembrar que a nossa ‘data de validade’ na altitude já havia vencido e o nosso corpo já estava com problemas para a reposição de oxigênio. Assim, cada subida de escadas era um martírio.

Um detalhe importante é que a altitude é traiçoeira. Quando se começa fazer esforço físico, parece que é a mesma coisa do que se estivesse no nível do mar. Sentindo que dá para agüentar mais, normalmente a pessoa aumenta a carga de esforço. O baque, porém, vem de uma vez e pode ser arrasador. Diversas vezes eu ia subir as escadas e começa a sentir uma fatiga mortal na metade dos degraus. Mesmo depois que já estava no andar, o corpo demorava muito para se recompor. Muitas vezes eu abria a porta do quarto, extremamente ofegante, e me jogava na cama, só voltando ao normal uns oito minutos depois.

Instalados, fomos atrás de um bom restaurante. Na saída do hotel, uma boa surpresa. Bem ali na nossa porta ocorria um desfile boliviano. Foi de hipnotizar as pessoas que passavam, até a mim, que não gosto muito de paradas ou coisas do gênero. Pedimos informações, e o atendente do hotel nos indicou um restaurante judeu na mesma rua, um pouco mais abaixo.

Naquele restaurante fomos perceber que há muitos judeus em La Paz. Pelo que ouvi dizer, muitos vêm fazer turismo e acabam ficando, já que o custo de vida no país é barato. Ficam por lá uns seis meses, ou mais. O cardápio estava escrito em espanhol e hebreu. Pessoalmente achei o restaurante muito esquisito, e preferi não inventar. Pedi uma lasanha que não foi lá grande coisa.

Voltamos e tiramos a tarde para descansar. Quanto tempo nós não fazíamos isto! Antes, porém, descemos uma rua concorrente (uma enorme descida, para falar a verdade) onde havia várias lojas com produtos interessantes, desde o artesanato até os importados. Havia uma seqüência enorme de lojas esportivas, cheio de camisas de futebol dos mais diversos tipos. Na minha lista de compra estava a do The Strongest, time paceño (de La Paz), mas em todas as lojas que entrei havia apenas camisas ‘genéricas’ e eu queria a original.

Durante a nossa exploração ao mercado, várias vans desciam a rua cheia de torcedores. Perguntei para um lojista e ele me informou que logo mais haveria o clássico da cidade, La Paz X The Strongest. Bateu aquela vontade de ir acompanhar o futebol boliviano de perto. Principalmente porque as vans não paravam de descer, abarrotadas de gente. Convidei a Lucimeire, mas ela não se mostrou animada. Acho que se insistisse ela até iria, mas como notei que realmente ela queria mesmo continuar as compras, desisti. Eu também estava em dúvidas, porque ir ao jogo era perder um tempo precioso que tínhamos para conhecer a cidade.

Voltamos ao hotel e procuramos dormir um pouco. Ao entardecer, as nossas colegas vieram nos chamar para nos apresentar um grupo de brasileiros que elas haviam conhecido no saguão do nosso hotel. Deixamos para depois e dormimos até no início da noite. Mais tarde, quando já estávamos integrados com os nossos conterrâneos, resolvemos descer todos até a principal avenida da cidade para jantarmos. Um dos nossos novos colegas recomendou uma lanchonete, que realmente era boa.

Na verdade havia vários grupos de brasileiros que estavam naquele hotel. Éramos umas vinte pessoas, no total. No caminho da lanchonete, descobri que um destes grupos tinha ido ao jogo à tarde. Para a minha ‘sorte’, me disseram que havia sido uma verdadeira pelada e que terminou em zero a zero. Menos mal.

A lanchonete era grande, e a comida era boa. O problema é que pedi um sanduíche com molho barbecue, que não me fez bem no dia seguinte, mas esta é outra história. A noite foi animada, com muitas conversas agradáveis. Com o bucho cheio, tivemos que subir de volta duas grandes ladeiras. Repetimos estas duas ladeiras várias e várias vezes até o final de nossa estada na cidade, já que o centro e todas as atrações de La Paz ficavam mais baixo do que o nosso hotel.

Mapa do Caminho - Dia 8

Data: 10/06/2007
Saída: Oruro, Bolívia
Chegada: La Paz, Bolívia
Distância percorrida no dia: 220 km
Empresa de trem: Urus
Duração da viagem: +- 4h
Tarifa: Bs. 20 (+- R$ 5,65 à época)

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