sexta-feira, junho 27, 2008

Último dia no Peru

Finalmente chegou o dia de voltar ao lar. Estava muito ansioso e com uma vontade enorme de entrar na minha casa, comer a comida da minha mãe, dormir na minha cama, encontrar minha família e amigos, enfim, voltar. É nestas horas que você dá muito valor a sua rotina, mesmo sabendo que em dois ou três meses tudo fica chato novamente e, para se consolar, você passa a planejar novas jornadas. De jornada em jornada é que se enriquece a vida.

Acordei com o Rodrigo falando comigo para virar de lado na cama. Não entendi o porquê, mas atendi o seu pedido. Apenas mais tarde ele foi me explicar que eu estava roncando demais. Não escutei nada. O novo albergue estava aprovado. Dormi muito bem. Arrumamos parcialmente as coisas e saímos para dar uma última volta por Miraflores.

Não tínhamos nada o que fazer. Seguimos, então, a cartilha goiana do tempo livre e não pensamos duas vezes em nos mandar para o shopping. Larcomar, é claro. Chegamos lá, fomos almoçar, ou melhor, lanchar. Logo depois de comer, ocorreu um episódio que não posso deixar de relatar. Estava eu sentado em uma cadeira, próximo a um degrau. Como em uma comédia pastelão, empurrei sem querer a cadeira com as costas e tombei de costas. Para a minha sorte a mesa ao lado, com um casal peruano e uma criança, me segurou, mas o estrago já havia sido feito. O refrigerante deles caiu no chão. Sem graça, me ofereci para pagar o prejuízo, mas eles não aceitaram. Os outros riam tanto que fiquei sem graça e saí de perto.

Melhor do que me remoer de culpa é comer Donuts. Lá no Larcomar havia uma barraquinha filial do Dunkin´ Donuts, e toda hora que passava na frente comprava um. Para me perdoar, desta vez acabei comprando dois e fui ver os horários do cinema. Estava com muita vontade de assistir Shrek 2. Para você que está pensando que é um absurdo estar do outro lado do continente e fazer uma coisa que existe do lado de casa, deixe-me lembrar que há todo um aspecto cultural, já que o filme é traduzido em español (rs).

Na hora que fui comprar o ingresso, Lucimeire me convenceu a mudar os planos. Ao invés de ver o famoso ogro verde, fomos jogar boliche. Aí sim, uma coisa que já não tem mais em Goiânia, infelizmente. Já Rodrigo e Lorena não animaram a entrar no jogo e foram ao cinema assistir um outro filme que não me lembro. Fazia muito tempo que não jogava. O objetivo era jogar apenas uma partida, mas à medida que íamos melhorando, fomos estendendo. O preço não era caro, já que pagávamos em soles. Foram algumas horas muito divertidas, que fizeram com que eu me esquecesse que estava a 4.500 km de casa.

Lá para o meio da tarde, cansamos e saímos do shopping. Passamos em uma Lan House para dar uma olhada na Internet. Saindo de lá, a Lucimeire me convenceu, novamente, a ir até a praia. Não vou mentir que deu preguiça, mas acabei aceitando quando pensei que demoraria um pouco até ver o mar novamente. Descemos todos aqueles degraus até as pedras e lá sentamos. Já estava prestes a anoitecer. Foi muito bom ficar olhando para aquela imensidão azul a nossa frente, e pensando que a primeira terra firme que havia naquela direção ficava na Ásia.

Voltamos ao albergue e reencontramos os outros. Nosso avião sairia às vinte três horas e cinqüenta e nove minutos da noite, então tínhamos mais um tempo. Tomamos banho, nos aprontamos, deixamos tudo certo para ir embora e descemos até a sala de televisão para ver o primeiro tempo de Brasil X México, estréia da seleção na Copa América. O jogo começava as sete e cinqüenta, então no intervalo já era hora de pegarmos as nossas coisas, chamar um táxi e nos mandar para o aeroporto. Vale frisar que de Miraflores até lá é uma hora de carro, já que o terminal aéreo fica em Callao.

Lucimeire nos preparou uma sopa que havia comprado no supermercado. O Brasil, como de costume, estava jogando muito mal e tomou dois gols ainda na primeira etapa. Havia alguns gringos na nossa frente que ficaram agitando conosco, indiretamente, mas nem ligamos. Se formos nos vingar em cada derrota da seleção do Dunga estamos perdidos.

Fim do primeiro tempo, e fim de estada no Peru. Um dos funcionários do albergue nos chamou um táxi que logo estava na porta. Acertamos o preço e nos mandamos para Callao. Logo na primeira quadra, alguém lembrou que havia esquecido alguma coisa lá no albergue, e o taxista, muito simpático, não hesitou em dar a volta.

Aliás, que peruano gente boa àquele taxista. O Mario (nome fictício) era uma pessoa maravilhosa, que nos deu uma aula de Lima no caminho para o aeroporto. Lembrando que de Miraflores a Callao é necessário cruzar toda a cidade e passar por quase uma dúzia de municipalidades. No caminho, ele nos contou a história de cada lugar, pontos interessantes da cidade, onde começava e terminava cada municipalidad, o caminho para lugares famosos e etc... No meio da corrida ‘guiada’, ele ia encaixando histórias da sua vida, e tirando nossas dúvidas sobre o Peru. Fez questão de nos mostrar quando passou na frente da Embaixada Brasileira.

Que corrida longa. Se fosse em um táxi brasileiro, com a taxímetro rodando, tinha desistido no meio do caminho. Mario ia tocando tranqüilo, mostrando muita satisfação em nos ensinar tudo sobre a sua cidade. Lembro-me quando, já perto do aeroporto, passamos em uma grande rotatória e ele nos avisou que a pista que cortava a nossa rua era a rodovia Panamericana. “O Equador é para lá?”, perguntei apontando a direita. “É sim, é só seguir reto”, me informou. Se não fosse a imensa vontade de, naquele momento, voltar para casa poderia jurar que tive o incontrolável anseio de virar e seguir naquela direção.

Quase no aeroporto, vimos uma bifurcação na pista e Mario nos explicou que se pegássemos o outro caminho, pagaríamos um valor de pedágio, mas chegaríamos mais rápido. Como não estávamos com pressa, continuamos na pista mais lenta, porém de graça. Para entrar no Aeropuerto Internacional Jorge Chávez, passamos por uma barreira policial, onde Mario teve que mostra um documento para a polícia. “É um esquema de segurança que existe desde o tempo dos atentados terroristas”, explicou. Longa história dos problemas sociais peruanos do século XX.

Quando Mario encostou o carro, tivemos a certeza de que a corrida foi, na verdade, um passeio. Agradecemos muito e tocamos para o guichê da Aerolineas Argentinas. Tentei mudar minha passagem para uma poltrona de janela (estava no meio), mas não consegui. O vôo estava lotado. Esperamos uns quinze minutos e entramos para o embarque.

É duro ser principiante em vôos internacionais. Quando cruzamos a primeira porta do embarque é que fui perceber porque nos pedem para estar duas horas antes no aeroporto. A surpresa maior, porém, era que a taxa de embarque não estava inclusa no preço da passagem. A primeira fila era justamente para quitá-la. Não era barata (US$ 30,75) e, naquela hora, agradeci a DEUS por ter tirado um dinheirinho para me manter às oito horas de escala em Buenos Aires.

Bem explorados, digo, resolvidos, entramos na segunda fila que era a imigração. Como na primeira, demorou uns 15 minutos. O oficial de fronteira pegou o meu passaporte, olhou, recolheu a folha que havíamos preenchido na entrada, lá próximo ao Lago Titicaca, há alguns dias atrás, carimbou a saída e me liberou. Pronto, estava despatriado (rs). A última fila foi a maior, mais ou menos uns 30 minutos, e era para nos revistarem.

Comecei a ficar com uma sede incontrolável e cansado de permanecer de pé. Quando chegou a minha vez, agradeci, novamente, a DEUS por tudo aquilo ter acabado.

Antes, porém, mais imbróglios à frente. A policial que me revistou pediu que eu tirasse tudo. Isto mesmo, TUDO. Ou melhor, quase tudo. O grande problema é que estava com duas blusas de frio, câmera fotográfica, pochete e outras coisas que tive que ir tirando e colocando no detector de metais. Quando estava apenas com uma calça e uma blusa, dei um passo à frente, rumo ao detector de metais para pessoas, mas a policial encostou sua mão na minha barriga e disse: “Y su relojito....”. Pensei: “Não acredito que até isto vou ter que tirar!!”. Desabotoei o relógio de pulso, encaminhei como às outras coisas, lhe dei um sorrisinho e passei.

Ainda tínhamos meia hora na parte internacional do aeroporto. Encontramos um brasileiro já idoso na sala de embarque. Tinha vindo ao Peru sozinho para passear e quando percebi já estava contando sobre sua vida. Quanto mais ele falava, mas eu torcia para que chamassem logo para o embarque. Chamado este que atrasou uns vinte minutos, para meu desespero. Quando, enfim, anunciaram o embarque fui o primeiro a pular para a fila. Logo estaríamos sobrevoando os Andes, com destino ao Rio da Prata.

Mapa do Caminho - Dia 24

Data: 27/06/2007
Saída: Lima, Peru
Chegada: Buenos Aires, Argentina
Distância percorrida no dia: 3.150 km
Empresa aérea: Aerolineas Argentinas
Duração da viagem: pouco mais de 4h
Tarifa: +-R$ 720,00 (de Lima a São Paulo) + taxa de embarque (US$ 30,75)

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