segunda-feira, junho 23, 2008

As últimas horas nos Andes

Como precisávamos marcar o passeio com a agência de turismo e comprar a passagem para Lima, acordamos cedo e logo estávamos caminhando pelas ruas de Arequipa. Algumas quadras depois lá estávamos na agência que acreditamos ser a melhor das quais tínhamos pesquisado. Entramos e acertamos o chamado ‘Tour Campiña’ para tarde. Como era uma agência grande, e eles revendiam passagens da Cruz Del Sur, matamos dois coelhos com uma cajadada só e compramos também o bilhete para a capital peruana.

A nossa intenção era percorrer os mais de mil quilômetros entre Arequipa e Lima durante o dia, já que a grande parte da viagem se passa na famosa rodovia panamericana, margeando o oceano pacífico e garantindo uma vista magnífica, principalmente para quem está passando por lá pela primeira vez. A Cruz del Sur, porém, não possui horários durante o dia, o que nos fez abandonar a idéia já que teríamos que ir até a rodoviária, procurar outra companhia, ver se era boa ou não, e tomar outras providências. Não estávamos querendo muita complicação nesta altura da viagem.

Na hora do almoço, aproveitamos o nosso último dia na cidade branca e optamos por um restaurante que ficava no terraço de um dos prédios da Plaza de Armas. Não lembro o que comi, apenas que a vista era deslumbrante. De lá dava para observar, ao mesmo tempo, a praça, a catedral, os prédios brancos e o vulcão Misti. A refeição foi só um detalhe, mesmo porque já estava com saudades da comida do Brasil e nada mais que pudessem me servir ali me apeteceria.

Durante o almoço, subiram algumas pessoas que tocavam música peruana em troca de dinheiro. Diferentemente do Brasil, onde as pessoas que oferecem um serviço em troca de moedas ou pequenas quantias aceitam um ‘não’ tranqüilamente, no Peru estes ‘autônomos’ não ficam feliz se você os ignoram. Eles são muito insistentes, como se você tivesse obrigação de lhe pagar algo por um serviço não solicitado. Acho que dei alguns centavos de soles somente para que fossem embora.

Voltamos ao hotel para fechar a nossa conta e liberarmos o quarto. Deixamos as nossas mochilas lá mesmo, enquanto fazíamos o passeio. Esta é uma prática comum nos albergues e, até mesmo, nos hotéis da Bolívia e do Peru. Quando você não vai ficar mais uma noite e a diária acaba na hora do almoço, considerando que você só sairá da cidade à noite, a melhor opção é deixar a bagagem no próprio hotel. Em todos que passamos não tivemos problemas quanto a isto e é bem seguro.

A nossa van do passeio saiu da agência de turismo, que ficava a poucos metros da Plaza de Armas. O Tour Campiña era destinado a turistas que queriam conhecer os arredores de Arequipa, mas não tinham tempo, assim como nós. Foi um dos poucos passeios que fizemos de improviso, sem ter planejado antes. Foi feito no estilo ‘grupo privado’, que só vai a gente, sem outros turistas. Agora não me lembro se era a característica do pacote que compramos ou se foi porque não havia mais ninguém no dia.

Serei sincero – hora nenhuma me empolguei com o Tour Campiña. Acredito que vale a pena, mas não há nada de espetacular. Acho que meu estado de espírito também influenciou negativamente. Depois de tantos passeios que fizemos até então, já estava cansado de bancar o turista (rs). Naquela tarde, visitamos muitos lugares bonitos, casas históricas com aquelas portas e paredes bem grossas, igrejas, alguns pequenos monumentos e a área agrícola da cidade. O nosso guia era muito bom e simpático, nos explicou as histórias que estavam por trás de cada lugar.

O que mais me chamou a atenção foi à visita a uma torre alta, onde eu defini muito bem o meu medo de altura. Estive em Machu Picchu, onde dava para ver o Rio Urubamba a 600 metros abaixo e me senti tão seguro como se estivesse em casa. Já no caso desta pequena torre, que não devia ter mais de 40 metros, quase empaquei no meio do caminho. O que importa não é a altura e sim o quanto você se sente seguro. Neste lugar, as escadas eram todas vazadas e a altura era totalmente vertical. Quando cheguei lá no terraço fiquei segurando firme para amenizar as más impressões. Pelo menos valeu muito a pena, já que a vista é única.

Estávamos de volta ao centro de Arequipa no início da noite. Pegamos as nossas coisas no hotel e nos mandamos para a rodoviária. Chegando lá comemos alguma coisa, mas já contávamos com a comida no ônibus. Assim que se aproximava a hora do embarque crescia uma nova expectativa por dois motivos principais. Ao mesmo instante que estava dando adeus à altitude, e meu estômago agradecia, nas próximas horas estaríamos ao lado do Oceano Pacífico. É claro que não há muitas diferenças entre o Pacífico e o Atlântico, mas para qualquer goiano estar próximo do mar já é motivo de festa. E eu não visitava o oceano desde 2004.

O adeus a Arequipa foi mesmo na hora de colocar o primeiro pé dentro do ônibus, pois logo que ele partiu fiquei entretidos com o que acontecia dentro. Primeiro, vale ressaltar que mais uma vez tivemos sorte, já que o ônibus estava novamente vazio e pudemos dormir em dois bancos. O segundo detalhe era a minha ansiedade pela bóia. Não demorou muito para que fossemos servido, como na viagem passada. Desta vez, porém, não ouve bingo depois da janta. Ficou para o dia seguinte.

As quatro primeiras horas da viagem foram de descida do que restava da Cordilheira dos Andes. Não demorei muito para dormir, mas acordei várias vezes e percebi que descíamos bastante. Mais um cochilo e quando voltei a acordar notei que já estávamos seguindo por uma estrada plana. Não demorou muito para sentir o cheiro de sal dominando o interior do ônibus, mesmo com o ar condicionado. Olhei para fora, pelo lado esquerdo, e vi as ondas batendo nos rochedos escuros cobertos pela imensidão da noite. Já estávamos na praia.

Mapa do Caminho - Dia 20

Data: 23/06/2007
Saída: Arequipa, Peru
Chegada: Lima, Peru
Distância percorrida no dia: 1.009 km
Empresa de ônibus: Cruz del Sur
Duração da viagem: +- 14h
Tarifa: s/ 85,00 (R$ 54,85 à época)

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