sexta-feira, julho 15, 2005

O Valor de uma Nova Conquista

Olá Pessoas,

Hoje eu não vou conseguir fugir do futebol. O São Paulo venceu o Atlético Paranaense por 4 a 0 e se sagrou campeão da Libertadores novamente. Este foi o terceiro título das Américas do glorioso tricolor paulista. Não quero apenas ficar aqui dando uma de torcedor, mas pretendo explicar o que isso influencia na minha vida.

O ano era 1992, tinha apenas 10 anos de idade, quando meu pai levou a família para jantar na casa de um amigo. Eu não sabia muito bem, mas aquela visita tinha uma segunda intenção. Era noite de final da Taça Libertadores da América, e o jogo São Paulo X New Old Boys não iria passar na TV aberta. E é claro, esse amigo do meu pai tinha TV a cabo, ehehehehe....

Na época eu não acompanhava futebol, mal sabia quem era a bola dentro de campo, mas fui e assisti toda aquela partida. A alegria do meu pai era contagiante. Também depois de quase 40 anos torcendo para um time, ver ele ganhar um título dessa expressão deve ser uma coisa maravilhosa. Para mim tanto fazia. Mas é claro, como todo bom filho torcia para o time de meu pai.

O mais estranho de tudo era que o dono daquela casa, o amigo de meu pai, era uruguaio e gostava muito dos times da Argentina. Com certeza ele devia estar torcendo para o New Old Boys, mas isso não intimidou meu pai. Quando o São Paulo venceu a decisão de pênaltis(3X2), foi uma festa só.

A partir do segundo semestre eu comecei a colecionar as figurinhas do Campeonato Brasileiro 1992(nossa, como tô velho). Daí comecei a ligar mais para o futebol. Mesmo assim demorei um pouco para começar a me entreter com aquele jogo que todo mundo gostava.

Em dezembro outra reunião festiva. Mas agora foi em casa mesmo. Apenas eu, meu pai, minha mãe e meu irmão. Eu me lembro que passou um filme do Jack Nicholson(aquele com a Cher, das bruxas e tal, não me lembro o nome) e depois veio o jogo. Era São Paulo X Barcelona, direto de Tóquio, na madrugada. Um jogo para entrar para a história com certeza. Do clube e minha.

Nunca me esqueço quando o São Paulo levou o primeiro gol. Meu pai virou para a gente e disse num ar que me inspirou a maior confiança do mundo: - Nós vamos virar isso. E vocês sabem, quando a gente tem 10 anos e os pais falam algo com tanta confiança, você acredita. E, como num passe de mágica, nós ganhamos por 2 a 1 e o mundo inteiro estava ao nosso alcance. Me lembro que aquele dia fui dormir e deixei meu pai gravando todos os detalhes da festa tricolor.

Enfim, em 1993, o São Paulo repetiu a dose. Não quero entrar muito nesse ano, porque posso me alongar muito. O fato é que eu já vivia o futebol nesse ano, e a nova conquista só meu deu mais força para isso. Mas foi em 1994, que veio a minha maior decepção. Sabe quando a gente é criança e pensa que tudo vai ser felicidade, a vida toda, e que nunca perderemos? Pois é, caí dessa ilusão da pior forma possível.

É uma longa história, mas vou tentar simplificar. Eu odiava o Palmeiras aquela época. Tudo por causa de uns amigos meus que viviam “em disputa” comigo. Tem até uma história para deixar todo mundo arrepiado, sobre os dois jogos das oitavas-de-finais daquela competição, quando o tricolor enfrentou essa “coisa” verde. Eu nunca contei essa história para ninguém, mas talvez um dia eu conte, sei lá. O detalhe maior é que a nossa classificação sobre o time da Parmalat foi um grande triunfo, talvez minha maior felicidade em toda a minha história de torcedor.

Passamos pelo Unión Española do Chile, nas quartas, e depois encaramos o Olímpia nas semi-finais. Primeiro jogo, vitória suada por 2 a 1 no Morumbi. No segundo, lá em Assunción, conseguimos segurar até quase 40 minutos do segundo tempo, quando eles fizeram 1 a 0 e levaram a decisão para os pênaltis. Me lembro que era alta madrugada, só tinha eu e meu pai na sala. No último pênalti, dos paraguaios, eu não vi. Virei minha cabeça para cima e só ouvi o narrador dizer as mais belas palavras do mundo, naquele momento: Defesa de Zetti!!!!! Estávamos na final mais uma vez.

O que poderia dar errado? São Paulo, atual bi-campeão da Libertadores, na final novamente, e favorito a ser o único tri-campeão mundial(apenas o próprio São Paulo, o Santo, o Milan e a Internazionale de Milão têm a honra de serem bi-campeões mundiais). Primeiro jogo, lá na Argentina, perdemos por 1 a 0 para o Vélez Sarsfield. Mas com a segunda partida em casa tudo seria diferente, não??

Não..... Era noite e eu esperava o jogo. Já estava pra lá de nervoso. Não conseguia fazer nada. No início da partida eram unhas partidas que caiam. Até o primeiro gol. Muller fazendo, de pênalti, 1 a 0 para o tricolor. Mas se um pênalti deu-me alegria naquele momento, um outro fez meu céu se encobrir de nuvens negras.

O jogo terminou. Decisão de Pênaltis. Primeiro pênalti, Palhinha. Ele que sempre foi uma das armas do tricolor. Eu estava no banheiro e não acreditei quando saí correndo para ver a sua fraca cobrança ser pega pelo grande goleiro Chilavert. E eu pensava: “Será que o mundo ia cair, e nós iríamos ser derrotados?? Não, com certeza não!! era só o suspense antes do triunfo”. E a partir daí, todo mundo foi cobrando e convertendo, um por um. Se esse era o suspense, então quem planejou tudo deveria ser um grande diretor, um Alfred Hitchcock.

Veio a última cobrança do Vélez. Era marcar e não haveria mais nada o que fazer. Ainda me lembro da narração do Galvão Bueno. Me lembro de tudo. Até que usei a estratégia do jogo passado, de olhar para cima e não ver a cobrança. Mas foi naquele chute, uma simples cobrança de pênalti, quando eu descobri que no futebol não há diretores. E que você tem que saber perder.

Nunca tinha chorado por causa deste esporte. Nunca mais chorei. Está foi, com certeza, a partida que mais me marcou na minha vida. E justo uma derrota. Mas foi A derrota. Depois do jogo ainda lembro de um comentário do grande Juca Kfouri no Jornal da Globo, quando ele disse que os são-paulinos queriam mudar o nome do estádio de Morumbi para Morumtri, mas que ia ter que ficar para a próxima.

Esta foi a última partida do São Paulo naquele torneio, naquela competição que elevou o clube à grandeza que ele tem hoje. Foram 10 anos de espera, mas em 2004, no ano passado, ele voltou a disputar a Taça Libertadores. Eu já havia superado aquele trauma, é claro, e já estava inserido no mundo da imprensa esportiva. Acho que foi por isso que nem ligava muito para torcer. Foi estranho, aquilo não significava nem mais 1% do que era para mim em 1994.

Hoje, ainda me sinto emancipado do futebol. Adoro, ver, acompanhar, cobrir, estar envolvido com ele. Mas sem aquela paixão de torcedor. Mesmo assim, nesta quinta-feira, a nova conquista teve um sabor especial. Novamente, eu e meu pai, estávamos lá assistindo e vendo o nosso time ser campeão. Esqueci, por um dia, todos os podres do mundo deste esporte e me transportei para o mundo ideal. Mesmo sabendo que o gosto doce deste título não chega nem perto da amarga ressaca de 94, hoje me sinto vingado. Não uma vingança ruim, mas apenas uma resposta àquele dia 31 de agosto de 1994, quando um jogo destruiu alguns sonhos de um garoto.



Foto: Reuters

5 comentários:

Anônimo disse...

A vitória ontem foi maravilhosa!!! ainda mais por ter assistido tdo ao lado do Renato e do Bênia, que estavam torcendo contra!!! ahahahha Maravilhoso ganhar mesmo!
Tricampeão!!! Tricampeão!!! bjos

Fellipe Fernandes disse...

Oi Dua,

vc sabe que eu sou muito sincero contigo, então aguenta essa: que post enorme!!! deu preguiça de ler. Este seu texto superou o tamanho dos meus e, consequentemente, a chatice. Vem cá: você torce pro Goiás ou pro São Paulo? não aceito a resposta medíocre "os dois..." nã nã nã... Decida-se, meu rapaz, ou deixe logo o Goiás. Não temos espaço para vira-folhas... Abraço para você

Rodrigo Alves disse...
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Rodrigo Alves disse...
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Rodrigo Alves disse...

ô senhor quase jornalista esportivo, vou me abster de comentar seu enorme post e vou apenas noticiar que meu blog está atualizado. Abraço

P.S. - Os dois comentários excluídos são meus. Estavam errados

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