terça-feira, maio 04, 2010

Eleições britânicas: labours or conservatives?

Como diria o meu amigo Fellipe Fernandes, texto devido é texto pago. Estou aqui para falar sobre as eleições britânicas, que ocorrem no próximo dia 6, quinta-feira.

A exemplo de qualquer sistema eleitoral no mundo, o britânico também é bem complicado. Morro de rir das matérias que saem nos portais brasileiros com a seguinte explicação: "blá blá blá, e isto ocorre devido ao complicado sistema eleitoral britânico", e não explica o porquê. Acho que, pelo menos por cima, poderiam dar uma luz para o leitor.

No Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte (ou apenas Reino Unido-RU) o sistema de governo é monarquia parlamentarista. Isto significa que há uma rainha, Elizabeth II, que é a chefe de Estado e um primeiro-ministro, atualmente o trabalhista Gordon Brown, que é o chefe de governo.

Isto é difícil para nós, brasileiros, entendermos, já que nascemos e crescemos no presidencialismo arraigado. Neste sistema o chefe de Estado e governo é um só, o presidente, eleito pela população, em eleições diretas. Já no parlamentarismo, o chefe de Estado fica com a função de representar e unir o Estado, enquanto que o chefe de governo, é claro, governa.

No parlamentarismo também não há uma divisão muito clara entre executivo e legislativo, já que o primeiro-ministro, chefe do executivo, é membro do parlamento. Vou explicar melhor: é como se no Brasil um dos deputados federais, depois de eleito, se tornasse presidente por ter a maioria de apoio da Casa. Daí o nome parlamentarismo.

Quatro nações fazem parte do Reino Unido: Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte. Para chefe de Estado não há eleições, já que a mandatária é a rainha Elizabeth II e seu cargo é hereditário. O seu reino, inclusive, é um dos mais longos da história - são 58 anos à frente do cargo - e só perde para a legendária rainha Victória.

O cargo de primeiro-ministro, que representa a chefia de governo, é renovado a cada cinco anos. Na próxima quinta-feira os eleitores britânicos vão as urnas escolher os seus 650 representantes na chamada Câmara dos Comuns (que equivale a nossa Câmera dos Deputados).

Diferentemente do Brasil, por aqui o voto é distrital, e não proporcional. Qual a diferença? No nosso país, o número de cadeiras de cada partido é proporcional ao número total de votos, enquanto que por aqui cada distrito tem uma eleição própria, direta, e o vencedor ganha a cadeira. O problema dos métodos é saber qual é melhor e o assunto é polêmico. Inclusive isto é um dos pontos de debate destas eleições, já que existe uma ala política que defende a troca. No Brasil há quem defenda a mudança pelo voto distrital.

Como no Brasil, no RU há dezenas de partidos, mas, como nos Estados Unidos, dois deles dominam a política britânica. Os conservadores (chamados também de Tories) e os trabalhistas são as duas faces do jogo político. Há uma terceira força, os liberais democratas, que vem crescendo muito nestas eleições e que promete ter uma importância grande no próximo governo.

A disputa é assim: depois de eleitos, os membros do parlamento votam internamente para a escolha do primeiro-ministro. Isto serve apenas para ratificar a escolha popular, já que o partido que tem o maior número de cadeiras vai indicar o seu líder como chefe de governo. Este assume o prédio oficial do governo na Downing Street, 10, em Londres.

Os líderes dos três partidos e, assim, candidatos ao cargo de primeiro ministro são o trabalhista Gordon Brown, o conservador David Cameron e o liberal democrata Nick Clegg. O detalhe é que no RU o mandato não é da pessoa, e sim do partido, ou seja, quem alcançar a maioria na Casa escolherá o primeiro ministro pelos próximos cinco anos, ou até que o congresso seja dissovido. Isto é importante em caso de renúncia, como ocorreu em 2007, com Tony Blair. Não houve novas eleições, e o novo líder trabalhista, Gordon Brown, foi conduzido ao cargo.

A campanha começou oficialmente no dia 6 de abril, quando Gordon Brown foi até a rainha Elizabeth II pedir a dissolução da Câmara. A corrida começou com David Cameron um pouco à frente nas pesquisas, vantagem fruto do desgaste trabalhista. É bom lembrar que o partido já controla o governo há 12 anos (dez com Tony Blair e dois com Gordon Brown). Nestes anos, problemas como o apoio às guerras do Afeganistão e Iraque e a recessão criada rescentemente com a crise econômica fizeram com que o partido perdesse credibilidade junto ao eleitor.

Nas primeiras semanas, porém, Brown cresceu e deu mostras de que passaria Cameron para mais uma vitória trabalhista. Então vieram os debates, para desespero do primeiro-ministro. Pela primeira vez na história, o Reino Unido teve debates transmitidos ao vivo pela televisão. Foram três, todos temáticos. O primeiro abordou a política interna, o segundo os assuntos externos e o terceiro a economia e os impostos. Foi então que Nick Clegg decolou.

Declarado vencedor dos dois primeiros debates, o liberal democrata embolou a disputa com os seus adversários. As pesquisas, inclusive, lhe deram uma pequena liderança entre o primeiro e segundo confronto. No terceiro, porém, David Cameron, foi melhor e reassumiu o favoritismo.

O problema é que o jogo continua embolado, o que começa a preocupar investidores e ameaçar um futuro governo. Explico. Vamos imaginar que existam 100 cadeiras e que elas fiquem divididas assim: candidato A, 40, candidato B, 30, candidato C, 30. O candidato A vence as eleições, assume o governo, mas não consegue a maioria. Isto porque os outros dois partidos, unidos, contam com 60 e conseguiriam travar o seu governo. É isto que está ocorrendo atualmente, o que certamente dará força ao partido de Nick Clegg, na composição futura.

O que tenho reparado nestas eleições é que aqui também existe 'vale-tudo' político, como no Brasil. Os britânicos, diferentemente dos brasileiros, não se incomodam. O partido conservador, por exemplo, estampou por Londres um monte de outdoors com a imagem de Gordon Brown e com dizeres contrários ao primeiro-ministro. Existe um que é mais ou menos assim: "eu aumentei os impostos e vou subir a taxa do seguro social. Vote em mim". Embaixo, em letras minúsculas, um outro dizer: "ou vote por mudanças, vote Partido Conservador". Gostaria de ter a foto, para ilustrar, porque achei isto muito interessante. Imagino em Goiânia, por exemplo, se o PMDB colocasse um montão de outdoors com a foto gigantesca de Marconi Perillo com a frase: "Eu prometi X e não cumpri. Vote em mim outra vez". Daria o que falar.

Esta eleição também ficará marcada pelas gafes. A maior delas, indiscutivelmente, foi de Gordon Brown. O trabalhista estava em campanha, quando foi convidado a conversar com uma eleitora histórica de seu partido. A velhinha, que tinha algumas críticas sobre a política interna e economia, começou a fazer questionamentos e a debater com o primeiro-ministro. Depois de muito conversar, Brown despediu-se com sorrisos, entrou no carro e dialogou com um assessor:

- Foi um desastre. Eles nunca deveriam ter me colocado para falar com aquela mulher. De quem foi a idéia? - disse o premier.

O assessor diz alguma coisa e Brown emenda:

- Acho que foi da Sue. Foi ridículo.

- O que foi que ela disse? - insistiu o assessor.

- Ah, tudo! Ela é um tipo de mulher bitolada (radical). Ela disse que é trabalhista. Foi ridículo.

O que Gordon Brown não sabia é que o seu microfone estava ligado e o diálogo, claro, foi gravado e divulgado. O mais engraçado foi a reporter, depois do ocorrido, ir atrás da mulher para contar o que passou e pedir o que ela achava. Eles colocaram o audio do primeiro-ministro para ela ouvir. A velhinha, assustada, arregalou os olhos e disse: "Eu não posso acreditar nisto". Uma dica, se você me aguentou até agora, por favor, veja o video aqui. É muito engraçado, não irá se arrepender.

Esperaremos, então, a próxima quinta-feira, para ver qual futuro os britânicos decidirão para o seu país. Se trabalhistas terão mais alguns anos de poder, ou se os consevadores realmente estarão de volta.

4 comentários:

Lian Tai disse...

Isso sim é um menino antenado! ;)

Erika disse...

Agora que entendo tudo das eleições daí, me tira mais uma curiosidade...rs. Como é com a imprensa? Eu li que dois dos maiores jornais daí declararam apoio ao partido conservador. Mas como é esse apoio? Eles ficam fazendo um monte de matérias favoráveis?...rs. Não consigo entender. E vc acha que aqui no Brasil os jornais também deveriam falar abertamente suas preferÊncias?..hehehe. Desenrola isso aí..rs. Beijos

Erika Lettry disse...

Só agora vi o vídeo da senhora. Ah, não. Que dó! Não entendi uma palavra do que ela disse, mas deu pra perceber que ela ficou muito chateada. E ele pediu desculpas depois, né? Que mico!

Eduardo Sartorato disse...

kkkkk!! Pois é, não é fácil entender mesmo.... mas quando eu voltar eu te mostro e 'traduzo' mais ou menos.... foi muito bizarro.... Quando a reporter fala para ela o que Brown disse, ela vira e pergunta com um ar de inocênica: "mas por que eu sou bigoted (bitolada, radical)?". Dá um pouco de dó mesmo. Dela e da reporter, que fica sem saber o que dizer, titubeia um pouco e diz: "foram as palavras deles". Eu vou escrever outro post sobre o assunto e falo sobre os jornais!! abraços para vc e para a Lian, que aguentaram ler o post, rsrs!!

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