quinta-feira, maio 28, 2009

O fim da Base Aliada

Quem acompanha este blog se estranha ao ver o assunto política ser debatido neste espaço. Apesar de gostar do tema, no qual trabalhei os últimos quatro anos, sempre preferi deixar as análises sobre governos e políticos para as páginas do jornal Tribuna do Planalto, e escrever aqui assuntos fora do ramo de trabalho.

Agora que deixei temporariamente o meu trabalho jornalístico e me preparo para uma nova jornada, desta vez na Europa, sinto vontade de repercutir o grande assunto político de Goiás: o fim da base aliada e o racha "quase" formal entre o governador Alcides Rodrigues (PP) e o senador Marconi Perillo (PSDB).

Para quem é leigo, um resumo. Alcides foi vice-governador de Marconi durante sete anos e três meses, assumindo o governo em março de 2006, na renúncia do tucano que se candidatou ao Senado. Disputou e venceu a reeleição no mesmo ano, ampliando o seu mandato para até o final de 2010.

Logo que se passaram as eleições, os atritos entre os dois grupos políticos começaram. Políticos ligados a Marconi queriam mais espaço no governo de Alcides, que preferiu dar prioridade aos seus aliados mais próximos. Com o tempo, o governo foi revelando problemas nas contas do Estado, colocando em xeque a tão propagada eficiência dos quase oito anos de governo Marconi.

Os atritos foram aumentando, mas ficaram restritos aos bastidores. A explicação lógica é que, como os dois eram aliados, uma briga pública seria prejudicial para ambos. A 'guerra-fria' proporcionou vários episódios, mas nenhum definitivo. Até a semana passada.

Com o aumento da expectativa de poder sobre o senador Marconi Perillo, pré-candidato ao governo nas eleições do ano que vem, aliados começaram a jogar duro com o governo, que não ouviu calado. Na segunda, 25, o deputado Carlos Leréia (PSDB), um dos aliados mais fortes de Marconi, fez duras críticas a Alcides, chamando-o de "traiador". As palavras do tucano também foi uma resposta ao secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, que nunca evitou de dizer que Alcides assumiu o governo com uma situação financeira bem deficitária.

As palavras de Leréia foram a gota d'água. Leia abaixo a entrevista coletiva que o governador Alcides Rodrigues concedeu ontem, quarta, 27, publicada hoje pelo jornal O Popular, em que ele responde os ataques. Resumo da história: o 'advogado' Leréia levou a Alcides um pedido de divórcio por parte de Marconi, e este assinou no mesmo instante.

O senhor se sentiu ofendido com as declarações do deputado Carlos Alberto Lereia?
Alcides Rodrigues - É claro que fiquei ofendido. Afinal de contas, tenho me pautado pela seriedade, pelo trabalho e pela retidão ao longo da minha vida pública e também pessoal. O poder público não pode resvalar para a área da irresponsabilidade, da leviandade e também do deboche. A sociedade, principalmente em Goiás – Estado que está crescendo e prosperando – precisa e exige dos homens públicos seriedade em suas condutas e decisões. Neste sentido, o governo de Goiás tem sido transparente, responsável e ético. E vai continuar assim.

Depois desses episódios, fica complicada a união da base aliada?
Eu disse que a antecipação das eleições era inoportuna, inconveniente, indesejável e ia contra os interesses administrativos de Goiás. O resultado está aí: a antecipação do debate sucessório. Estamos muito longe ainda das eleições. Neste momento, todos que fomos eleitos temos de trabalhar muito pelo nosso Estado para beneficiar a população. É isso que estou fazendo com a minha equipe. Trabalhando muito, apresentando resultados positivos a cada dia, a cada instante. Goiás está sendo um canteiro de obras, não só de infraestrutura, mas em todas as áreas, em todas as regiões.

O senhor vai considerar lideranças do PSDB como opositores ao governo oficialmente?
Vou tratar todos com consideração, com respeito, como tenho feito até este momento. A Assembleia Legislativa tem tido toda atenção e consideração como Poder pelo Executivo. Os outros poderes, idem. Então, vou continuar nesta linha. Não vou me resvalar hora nenhuma para o lado da discussão que não traz frutos para Goiás.

Vai buscar ampliar o apoio na Assembleia Legislativa?
Nunca tive problemas na Assembleia. Tenho tido o respeito e a compreensão dos parlamentares em todas as discussões que para lá foram encaminhadas pelo Executivo. Tenho tido uma relação respeitosa com o Legislativo. E assim há de continuar.

Em sua opinião, onde está o começo deste rompimento com o senador Marconi Perillo?
Eu quero dizer que os problemas começaram a existir a partir do momento da busca do poder. Esta não deve ser a primeira discussão de um homem público, em qualquer esfera. O debate sucessório é apaixonante. E muitos são mais apaixonados até do que outros. Alguns são muito vaidosos. Têm de estar à frente em tudo, de ser considerado o melhor, o mais bonito, o mais-mais de tudo. E não é assim. Temos de ter espírito público e procurar fazer valer a confiança que foi nos depositada pelo povo goiano.

O vaidoso é o senador Marconi Perillo?
Não disse nomes, não nominei. Eu disse que existem pessoas vaidosas. Os senhores não concordam?

O que acha da acusação de traição, de que na época da campanha o senhor defendia o governo anterior e depois surgiram as críticas?
Olha, traição é daquele que não dignifica a confiança do povo. É aquele que não cumpre compromissos. É aquele que fala uma coisa e faz outra. É aquele, ou aqueles que fazem reuniões na calada da noite, fazendo estratégias para inviabilizar o governo. Estes é que são os traidores do povo de Goiás. Não (trai) quem trabalha diuturnamente, pagando contas, fazendo com que a coisa pública seja levada a sério, acabando com as tetas daqueles que não estão percebendo que o tempo é outro e que agora não existe mais.

Tempo novo acabou?
Sempre existirá tempo novo, tempo bom, para aqueles que querem o bem da coisa pública e dos interesses do Estado.

O senhor concorda com o secretário Jorcelino Braga, que disse que há um grupo do PSDB que quer desestabilizar seu governo?
Concordo em gênero, número e grau. O secretário Braga, como os demais secretários, têm sido uns leões na luta para que possamos ultrapassar tantos problemas que se apresentam à nossa frente, principalmente numa crise internacional. O Estado está em melhores condições porque fizemos uma corajosa reforma administrativa a tempo. E tivemos a condição de atravessar esta turbulência. Temos dificuldades, mas estamos trabalhando para ultrapassar estes obstáculos – alguns colocados até por pessoas que querem inviabilizar o governo.

O que deixou o senhor mais indignado em todo este episódio?
A quebra da confiança. Eu sempre fui um companheiro leal, correto, em todos os instantes. Correto, leal, prestativo, solidário e companheiro. Mas nunca me permiti estar na condição de títere1 ou de capacho.

Mandaria algum recado ao senador Marconi Perillo?
Não, não quero mandar recado. Eu, se tiver de falar, falo pessoalmente e a hora que for conveniente. Hora nenhuma eu peço para alguém falar em meu nome.

Está mais revoltado com o deputado Lereia ou com o senador Marconi?
Quero esquecer este episódio, que tem nele embutido alguns que representam o Cavaleiro da Triste Figura2.

Confirma que o PP terá candidato a governador?
Não quero discutir eleições. É inoportuno e até a legislação eleitoral não permite. Estamos é trabalhando, fazendo e conquistando muito por Goiás.

O governo pensa em apresentar dados sobre o governo anterior?
Os números não mentem. Estão aí para todos.

1 - Boneco que se move por cordéis e engonços. Fig. Bonifrate, casquilho que para nada serve. Palhaço, bufão.

2 - Da obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, que narra a história de um velho que, ao ler romances de nobres cavalheiros, sai em busca das suas próprias aventuras. O livro, na verdade, é uma paródia aos cavaleiros medievais em uma época em que a cavalaria já está em decadência. Em outras palvavras: cavaleiro decadente.

Um comentário:

Maria Cristina disse...

a pergunta do "vaidoso" é minha ehehehehhe ah, política é bom demais! a semana passada foi muito empolgante, pena que para mim ela acabou de um jeito quase trágico né, kkk bjo e valeu pela cia ontem

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