sexta-feira, novembro 27, 2009

Como aprender uma língua estrangeira

Há alguns meses atrás, mais precisamente em janeiro deste ano, escrevi um post sobre os desafios de aprender um novo idioma. Ao pesquisar os tópicos mais visitados do blog, me surpreendi ao ver que este estava entre os mais populares.

A razão, porém, não é nenhuma surpresa. Aprender uma língua estrangeira é tão importante hoje em dia quanto difícil. Partir do zero e chegar à fluência é o sonho de qualquer estudante, mas a grande maioria fica no meio do caminho. Razão? Penso que poucos têm noção do que é necessário para se tornar um falante em outro idioma.

Com tudo isto é quase uma obrigação da minha parte interromper a série de viagens européias para passar um pouco da minha experiência em aprendizado de língua estrangeira.

Dois atributos necessários para se aprender de fato uma língua estrangeira: disciplina e prática. Esqueçam o que vocês vêm a respeito de propagandas de escolas de idiomas, que prometem fluência em poucos meses. Não há fórmula mágica. Língua é vivência, prática. Quanto mais se pratica, mais rápido estará falando.

É aí que entra a disciplina. A grande maioria dos estudantes não mora no país onde se fala o idioma-alvo. O que fazer? Encaixar a prática de idiomas no dia-a-dia. Ver filmes, ler livros, visitar sites na internet, escrever qualquer coisa, até mesmo pensar ou falar sozinho, tudo isto faz a grande diferença no caminho da fluência.

Cursos de idiomas são muito importantes, mas, se tratando de aprendizado de língua estrangeira, eles não vão fazer o trabalho sozinho. Disciplina é a palavra. Se você não fizer a sua parte, a sua situação não melhorará. Lembre-se sempre disto antes de gastar rios de dinheiro com aulas e, no final, se lamentar por ter aprendido muito pouco.

Então, como fazer? A melhor forma, é claro, é se mudar para um país onde se fala a língua desejada, entrar em um bom curso e ficar por conta de estudar, sem contato com outros idiomas, principalmente com a sua língua materna. Fácil, né? Claro que não.

Quero deixar aqui uma humilde sugestão para quem quer realmente aprender a falar um idioma. Não apenas faça um curso, mas pratique a língua todos os dias, nem que seja um pouquinho por dia. Faça todas as lições e leia bastante. Preste atenção no fundamento de cada língua, já que é muito comum chegar lá na frente e perceber que não aprendeu direito alguma coisa elementar. Com certeza fará falta. Neste caso, volte você mesmo e supra esta lacuna.

Quando estiver em vias de terminar o nível intermediário é hora de investir um pouco mais no aprendizado. Tire umas férias, viaje até o país onde se fala o idioma e faça um curso, mesmo que seja por um mês. Até pouco tempo atrás eu pensava que era dinheiro jogado no lixo, mas não é. Hoje tenho certeza: é fundamental. Um mês longe da sua língua materna, falando, ouvindo, lendo e escrevendo um outro idioma faz maravilhas.

Se você não tem nenhuma possibilidade de realizar uma experiência deste tipo, não desanime. Muitas pessoas conseguem se tornar fluentes sem pisar fora do seu país natal. Só que, neste caso, você precisará de doses mais fortes de disciplina e prática. Quase uma overdose, para falar a verdade. Mas, lembre-se sempre: quanto mais você praticar, mais rápido ficará fluente.

Bons estudos!!

Em tempo: Terminei hoje o meu curso de um mês de língua e cultura italiana, na Università per Straniere di Perugia. Não, ainda não falo perfeitamente o italiano, e ainda cometo muitos erros, mas já sinto uma certa fluência, o que me animou muito. Em um mês fiz praticamente a carga horária de dois semestres de um curso tradicional no Brasil. A universidade, aliás, é muito boa e recomendo a todos que queiram aprender este idioma.

sábado, novembro 21, 2009

Bruxelas e o Tintin Tour

Já havia feito todo o roteiro. Sairia de Roma, passaria por Venezia, Barcelona e voltaria a Roma no dia 30 de setembro. Passaram-se mais alguns dias e eis que a Ryanair resolve fazer outra boa promoção. Dou aquela olhada sem compromisso e acho para este mesmo dia um vôo Barcelona (Girona)-Bruxelas (Charleroi) por um euro. Me animei.

Por que ir até a Bélgica, pequeno país ao norte da França que fala três línguas (francês, neoladês e alemão) totalmente estranhas para mim, e que não é incluso no mapa turístico europeu? O motivo eu tinha, era só encontrar uma passagem de volta. Hummm..... Não tinha Charleroi-Roma, mas achei Charleroi-Torino (Turim), para o dia 3, exatamente quando eu precisava. Não pensei duas vezes e dois euros mais pobre havia incluído Bruxelas no meu roteiro.

Ah sim, o motivo. Fácil, Bruxelas é a terra de Tintin, personagem criado pelo cartunista belga Hergè. Tintin é conhecido no Brasil, principalmente, pela série animada produzida no início dos anos 90 e que foi veículada principalmente pela TV Cultura nesta década. O personagem-herói, porém, deu suas caras muito antes, em diversas publicações de histórias em quadrinhos, hoje com versões brasileiras pela Editora Companhia das Letras e disponíveis nas melhores livrarias.

Georges Prosper Remi, ou apenas Hergè (pseudônimo que se origina do som das letras iniciais do seu sobrenome e nome, R e G, nesta ordem), começou sua carreira no Petit Vingtième, suplemento infantil do quotidiano católico Le Vingtième Siècle. São nas suas páginas que nasce em 1929, Tintin, o repórter aventureiro que protagoniza 24 histórias até 1983, ano da morte de Hergè.

No início as histórias de Tintin eram muito ingênuas, com uma visão eurocentrista e, de certa forma, racista. As primeiras aventuras do herói, como Tintin no País dos Sovietes, Tintin no Congo e Tintin na América retratam bem a falta de visão das verdadeiras demandas sociais do mundo. Graças a sua amizade com Chang Chong-jen, um jovem chinês que estudava escultura na Bégilca, Hergè conseguiu visualizar seus erros e passou a escrever histórias de denúncias sociais, como O Lotus Azul e A Ilha Negra.

Um de seus grandes trabalhos foi sem dúvida Tintin no Tibet, que conta a perseverança e o valor da amizade por parte do herói, que desafia a maior cadeia de montanhas do mundo, e todos os alertas das pessoas à sua volta, atrás de seu amigo Chang(o amigo chinês de Hergè também era personagem), que havia sofrido um acidente de avião. Na época Hergè teve uma grande desilusão e a obra foi uma forma de reafirmar o seu verdadeiro sentimento em relação a amizade.

Cresci assistindo Tintin e até hoje brinco que ele é minha inspiração jornalística. O que não é brincadeira é a minha fascinação por todas as suas aventuras e a sua facilidade de entrar sempre em confusões e conseguir sair mais forte de cada situação. Tintin é um misto de aventura e mistério, que ultrapassa às suas histórias e chega a criar questões sobre o próprio personagem.

Enfim, depois desta grande introdução, vamos aos fatos da minha viagem. Inversamente a Barcelona, para mim Bruxelas seria uma cidade calma, bonita e acolchegante. Errei feio. O frio faz a capital da Bélgica ficar pouco atraente. Não falo apenas da temperatura, mas dos costumes do povo belga. É possível entrar em um metrô cheio e não ouvir uma voz sequer? Em Bruxelas é.

Não sabia muito sobre Bruxelas, e fui descobrindo conforme andava pela cidade. O lugar mais bonito é sem dúvida a Grand Place, praça medieval que sedia a prefeitura e o palácio real. Mas se não fosse pelo meu Tintin Tour sairia realmente desapontado da cidade. Procurei pela internet tudo relacionado ao personagem e pus os pés na estrada.

Os dois melhores pontos é, sem dúvida, o Museu de História em Quadrinhos e o Museu Hergè. Este último não fica em Bruxelas, mas em Louvain-La-Neuve e é necessário pegar um trem. Com o meu fracês 'perfeito', cheguei até o atendente e falei "Bonjour", seguido de insistentes apontadas para o panfleto que dizia o nome da cidade. Ele entendeu.

O museu é relativamente grande e vale a pena reservar uma tarde para vê-lo mais atentamente. Como não havia NENHUMA placa de 'proibido fazer fotos' pus a câmera para funcionar. Não tinha muita gente no museu e como ninguém fazia fotos, comecei a ficar meio constrangido. Só tirava quando não tinha ninguém vendo. Já que não tive problemas, liguei o 'deixa disto' e passei a ser menos discreto.

Quando percebi, um segurança (pequeno, a vontade foi de sair no braço, rsrs) me informou que era proibido tirar fotos. Dei um ok, e continuei vendo o que via. Ele se voltou novamente a mim e pediu para apagar a foto que tinha feito. Apaguei e continuei a visita. Foi quando ele me pediu para apagar TODAS as fotos que havia feito (foi nesta hora que quase avancei). Com muito mal humor fui apagando, uma por uma, pensando em um jeito de burlar aquele cara. Como não me veio nada em mente, acabei perdendo as fotos. Se tivesse parado na parte que estava tirando discretamente ficaria com algumas, pelo menos. É, quem tudo quer nada tem. Menos mal: no museu de história em quadrinhos havia muita coisa legal e fiz várias fotos lá.

Problemas à parte, a visita no museu Hergè é uma verdadeira viagem à vida do cartunista. Dá para perceber toda a importância que os belgas dão ao seu mais importante herói. E em dúvida é um belo passeio para quem conhece, e não conhece, Tintin.

No dia 3, peguei o avião direto a Torino, com a intenção de alugar um carro e descer até Roma. Masssss.... Isto é assunto para um próximo post.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Barcelona: a cidade 'quase' perfeita

O que falar de Barcelona? Ela é tudo que eu pensava que Bruxelas seria, e vice-e-versa. O que significa isto? Pelo seu tamanho e centro importante da Espanha, achei que a cidade fosse um caos, como quase a totalidade das grandes cidades. Errei feio.

Já Bruxelas pensava ao contrário. Um centro pequeno, de um país minúsculo, reconhecido por sua organização. Tinha esperanças de encontrar uma cidade calma, limpa, bonita, segura e tranqüila. Errei feio.

Meu objetivo, porém, não é comparar duas cidades tão diferentes. Deixarei Bruxelas para um outro post, já explicando porque fiz tanta questão de visitá-la.

Acho que posso resumir Barcelona pela minha chegada. Como já escrevi aqui, meu avião atrasou cinco horas em Treviso e eu cheguei de madrugada a Girona, onde pousam os vôos da Ryanair.

Fui todo o trajeto imaginando como chegaria ao meu albergue, longe do centro da cidade. Tinha três desafios a minha frente. Primeiro, haver ônibus de Girona a Barcelona. Depois, conseguir um transporte público para chegar ao albergue. Por último, o albergue ainda estar aberto, aceitando check-in.

Não me preocupava muito com o primeiro. Como estes transfers do aeroporto para a cidade são orientados pelos horários dos vôos, tinha fé que teria lá um ônibus à espera. E assim foi.

Depois de uma hora e meia de estrada, cheguei a Estação Norte de Barcelona, onde enfrentaria a pior situação: procurar um ônibus para o meu albergue, no meio da madrugada e numa cidade grande e desconhecida.

Na saída já comecei procurar um bom lugar para dormir, ali mesmo no chão da estação, quando me chamou a atenção algumas pessoas que entravam no túnel do metrô. Pensei: “O que estará havendo, já que certamente o metrô está fechado”? É claro, fui atrás.

Que surpresa ao me deparar com a estação aberta e meia dúzia de pessoas comprando bilhetes. Ainda estava incrédulo, mas também fui lá comprar. Passei a catraca e só acreditei que pegaria um metrô as DUAS da manhã quando o trem parou de frente a mim e abriu a porta.

Era sábado, talvez isto explique o horário tardio de funcionamento do transporte público, não sei. Logo que entrei, fiquei mais surpreendido ainda quando eu vi um grupo de jovens cantando e dançado no meio do metrô (é claro, depois de uma biritinha). Alguns dias depois descobri que aquela cena resumi Barcelona.

A capital da Catalunha é cheio de energia. Não só não dorme, como tudo é motivo para festa. Imaginem uma cidade grande, bem arquitetada, com praia e montanha, onde as ruas são tranqüilas, cheia de eventos e belos monumentos.

Lá se destacam as obras do arquiteto Antonio Gaudì, como a catedral da Sagrada Família (ainda em construção, com previsão de término em 2020) e o Parque Güell. Este último é maravilhoso, situado em cima de uma montanha dá para ver toda Barcelona e respirar ar puro. Entre suas subidas e descidas, as obras naturalistas de Gaudì. De tirar o fôlego (e não falo só dos barrancos).

Barcelona é uma cidade ‘quase’ perfeita. Digo ‘quase’ porque um centro de 1,5 milhões de habitantes deve ter algum ponto negativo forte. Não consegui detectar nenhum nos quatro dias que ali fiquei. Roteiro mais do que obrigatório para quem vem a Europa.
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