segunda-feira, maio 24, 2010

Lost e Férias

Acabei de assistir o último episódio de Lost. Achei brilhante, apesar de não responder todas as questões. Já está divindo opiniões no mundo inteiro. Não foi esta, porém, a história da série: causar dúvidas e discussões? Acho que elas continuarão a existir, por algum tempo pelo menos, principalmente no mundo virtual.

Por falar em virtualidade, informo a todos que tirarei umas férias do meu mundo virtual por alguns dias. Isto abrange blog, orkut, facebook, twitter, msn, gtalk e demais. Só continuarei checando os e-mails, mas em uma frequência bem menor. Ou seja, ficarei quase 100% offline de tudo que seja online.

grande abraço a todos e até a próxima se DEUS quiser!!

sexta-feira, maio 21, 2010

Cartilha do Pobre em Londres

Ela voltou!! E agora, em versão londrina.

A Cartilha do Pobre foi uma produção minha há cinco anos e publicada no antigo blog da minha amiga Erika Lettry. Acho que ela, a cartilha, acabou sendo apagada, porque ela, a minha amiga, mudou de endereço e não há mais arquivos lá onde outrora ela 'papagaiava' (www.aspapagaias.blogspot.com).

Passando por tanta situação de pobre aqui na capital inglesa, não podia deixar de criar uma nova cartilha. É interessante notar que Londres guarda características próprias para os pobres. E nó, pobres, aguentamos a rotina e as limitações que a renda nos impõe, rsrs. Resumi em 16 tópicos o que é ser pobre em Londres. Lá vai.

Ser pobre em Londres é:

- Em primeiro lugar, dividir casa com mais dez pessoas para pagar menos aluguel;
- Não conseguir acessar internet porque todos estão puxando filmes e músicas ao mesmo tempo;
- Morar na Zona 3, mas comprar o passe da Zona 2 (mais barato), descer do metrô antes e completar a viagem de ônibus (que não tem diferenciação de zonas);
- Encher o metrô de malas quando vai viajar, ao invés de chamar um taxi;
- Pegar o trem pinga-pinga para o aeroporto, economizando assim quase metade do preço dos trens expressos;
- Viajar de férias em companhias low-costs e ainda pegar o buzão para o aeroporto de madrugada, quando a passagem é mais barata;
- Comer sempre no trabalho, deixando a geladeira vazia e o bolso um pouco mais cheio;
- Viajar quase duas horas de ônibus para comer naquele restaurante chinês do tipo: coma o quanto quiser por apenas 5,49 libras;
- No supermercado, sair correndo para ver o que está no 'reduced' (promoção devido o vencimento próximo da data de validade);
- Ir ao parque no final de semana, já que é de graça;
- Não sair de casa no final de semana se você não tiver um Travelcard no Oyster (passe do transporte público). Neste caso, só sair do seu bairro para trabalhar;
- Curtir o som dos músicos de metrô, mas não dar nem mesmo um penny (um centavo) para o coitado, já que vai lhe fazer falta;
- Ficar vendo de cima das pontes os turistas fazendo passeios de barco pelo Tâmisa, ou se aventurando na London Eye (roda gigante);
- Ir para a Oxford Street, passear em várias lojas, passar vontade e não comprar nada;
- Ficar feliz ao comprar um montão de roupas baratas na Primark;
- Ir embora da cidade e descobrir que não fez nada (não viu uma peça, não foi no cinema, não assistiu a um jogo de futebol sequer, não comprou nada legal e não viajou pela Grã-Bretanha), já que usou todo o dinheiro que tinha para pagar o aluguel;

Quem tiver sugestões, manda aí. Vamos incrementá-lo.

terça-feira, maio 11, 2010

Londres depois de três meses

É engraçado quando a gente tem uma impressão sobre uma coisa, ou, no caso, um lugar e com o passar do tempo ela vai se consolidando. Em três meses ainda não dá para criar uma opinião sólida sobre algo, mas a tendência é que meu ponto de vista inicial sobre Londres se confirme.

Quando cheguei me deparei com um monte de gente preocupada com trabalho. Já sabia desta vocação dos imigrantes, mas gostaria de saber o porquê.

É claro que trabalho é preocupação geral em qualquer parte do mundo, mas o interessante é pensar porque tanta gente vem de tão longe para arrumar um ganha pão em terras inglesas.

Qualidade de trabalho não é, já que a maioria parte para o emprego de pouca instrução. Salvo raras exceções, este tipo de labuta não é nada agradável.

"Quantidade de dinheiro?" - me questionei incialmente, até notar o tão caro que é para se morar aqui. Transporte e aluguel pode facilmente te levar umas 500 libras por mês. Normalmente o tipo de trabalho que um imigrante faz lhe rende, no máximo, 1.000 ou 1.100 libras mensais (trabalhando de 50 a 60 horas por semana), o que, tirando comida e uma diversão ou outra, sobra-se muito pouco para se guardar. É raro aqueles que não reclamam das contas.

Qualidade de vida. Sim, aqui o transporte funciona e quase não existe crime. Pontos muito positivos, sem dúvida nenhuma. Mas, o que é qualidade de vida para você? Morar em uma casa sozinho, por exemplo? Pode esquecer, só se você conseguir passar para o nível 2 dos empregos londrinos. Além disto, se dê por alguém de sorte se você conseguir ter um quarto individual. Para mim (e um monte de gente que conversei) também pesa ficar longe do nosso país de origem, amigos e família. Então, qualidade de vida é um conjunto de tudo isto e muitas vezes a balança pende para o negativo.

Enfim, por que as pessoas gostam tanto de Londres?

Cheguei a conclusão que Londres é uma cidade que te enfeitiça. Oportunidades a cada esquina (mesmo que a maioria seja ilusão), possibilidades de crescimento (por rico aqui é rico mesmo!! rsrs) e, principalmente, poder e opções de consumo são atrativos que fazem qualquer pessoa pós-moderna ficar maluca.

Mais do que uma cidade que nunca dorme, Londres é o lugar onde tudo é possível. Um tipo de América do século XXI para africanos, asiáticos, latino-americanos e pessoas do leste europeu. Se entrar numa loja e ver produtos eletrônicos de última geração a preços totalmente acessíveis conseguem despertar o meu consumismo interno, eu, que sou e vivi toda a minha vida em um país em desenvolvimento, imagino o impacto para quem vem dos países mais pobres do mundo.

Não apenas consumo material, mas também consumo cultural. É impossível andar de metrô e não se esbarrar em dezenas de cartazes de peças de teatro da mais alta qualidade.

Tudo é bem acessível, mas é tanta coisa que você sempre fica pensando naquilo que precisa consumir no próximo mês. Este potencial inesgotável é que prende as pessoas por aqui. E é necessário muito cuidado para o feitiço não se transformar em música, daquelas que a gente não consegue tirar da cabeça e, assim, dias, meses e anos se passem sem que consiguemos sair de uma vez por todas deste país.

sábado, maio 08, 2010

E quem ganhou? Ninguém.....

Prometo escrever menos do que no outro post. Sei que política britânica não é um assunto muito interessante para nós, brasileiros, mas acho importante escrever um outro post, já que o jogo ficou embolado. Quem gosta de política vai gostar de fazer um paralelo entre o processo eleitoral aqui e no Brasil. De qualquer forma, meu objetivo é deixar registrado como é, mais ou menos, as eleições britânicas. Se alguém quiser pesquisar no futuro, pode usar estas informações como uma fonte em português, já que vi muito pouco escrito sobre o assunto na nossa lingua materna.

As eleições acabaram, mas a polêmica não. Quem será o primeiro-ministro? Ninguém sabe ainda. O trabalhista e atual líder de governo, Gordon Brown, pode continuar mesmo que seu partido não tenha conseguido o maior número de cadeiras (258). O seu sucessor também poderá ser o conservador David Cameron, que conseguiu o maior número de parlamentares (306), mas não suficiente para chegar à maioria (326).

Neste ponto, peço licença para corrigir uma informação do texto anterior. Os parlamentares eleitos não votam para eleger o primeiro-ministro, mas a rainha Elizabeth II convida o líder do partido que conseguiu a maioria do parlamento a compor um novo governo. Como ninguém conseguiu, o jogo continua em aberto.

O que ocorrerá então? Como havia comentado, o Partido Liberal Democrata (LibDem) será o fiel da balança. O seu líder Nick Clegg (foto) não tem chances de assumir a Downing Street, 10, mas é a peça política mais importante do momento. Isto porque o partido conquistou 57 cadeiras e pode fechar um governo de coalização tanto com conservadores, como com trabalhistas.

Clegg já começou a conversar com o conservador Cameron, para tentar chegar a um acordo. Uma aliança entre os dois partidos é a única opção viável para se ter um governo de maioria, já que juntos eles possuiriam 363 cadeiras. O problema é a diferença de idéias (ideais políticos e sociais) entre os dois. Por exemplo, Clegg e os LibDem querem uma reforma política, a mudança do voto distrital para proporcional, o que fortaleceria o seu partido em futuras eleições. Os conservadores são contra.

Gordon Brown ligou para Clegg e se pôs a disposição para conversar, se eles não chegarem a um acordo com os conservadores. Juntos, trabalhistas e democratas possuem 315 cadeiras, não conseguiriam a maioria, mas poderiam tentar formar um governo de minoria com alguns partidos menores. Os nanicos conquistaram 28 cadeiras, mas não marcharão unidos, já que as diferenças entre eles são muito grandes. São constituídos desde radicais separatistas, até partidos mais progressistas, como o Partido Verde, que conseguiu o seu primeiro assento em toda a história política britânica.

Um governo de minoria, tanto por parte de conservadores, quanto por trabalhistas, também pode governar discutindo para a aprovação de cada matéria, separadamente. Guardadas as proporções, isto ocorreu no governo Alcides Rodrigues (PP), em Goiás, onde o pepista enfrentou uma oposição 'às escuras' na Assembléia Legislativa, já que a maioria sempre foi do PSDB. A cada matéria o governador tinha que dialogar com os deputados e buscar o consenso sobre uma coisa ou outra. É mais democrático, mas muito mais devegar e desgastante.

Até chegarem a um concenso, Gordon Brown continuará como primeiro-ministro. Não há prazo para atingirem um acordo, mas muitos por aqui apontam 25 de maio como o dia D, quando a rainha fará um pronunciamento à nação e falará sobre as prioridades do novo governo. Veremos o que ocorrerá.

terça-feira, maio 04, 2010

Eleições britânicas: labours or conservatives?

Como diria o meu amigo Fellipe Fernandes, texto devido é texto pago. Estou aqui para falar sobre as eleições britânicas, que ocorrem no próximo dia 6, quinta-feira.

A exemplo de qualquer sistema eleitoral no mundo, o britânico também é bem complicado. Morro de rir das matérias que saem nos portais brasileiros com a seguinte explicação: "blá blá blá, e isto ocorre devido ao complicado sistema eleitoral britânico", e não explica o porquê. Acho que, pelo menos por cima, poderiam dar uma luz para o leitor.

No Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte (ou apenas Reino Unido-RU) o sistema de governo é monarquia parlamentarista. Isto significa que há uma rainha, Elizabeth II, que é a chefe de Estado e um primeiro-ministro, atualmente o trabalhista Gordon Brown, que é o chefe de governo.

Isto é difícil para nós, brasileiros, entendermos, já que nascemos e crescemos no presidencialismo arraigado. Neste sistema o chefe de Estado e governo é um só, o presidente, eleito pela população, em eleições diretas. Já no parlamentarismo, o chefe de Estado fica com a função de representar e unir o Estado, enquanto que o chefe de governo, é claro, governa.

No parlamentarismo também não há uma divisão muito clara entre executivo e legislativo, já que o primeiro-ministro, chefe do executivo, é membro do parlamento. Vou explicar melhor: é como se no Brasil um dos deputados federais, depois de eleito, se tornasse presidente por ter a maioria de apoio da Casa. Daí o nome parlamentarismo.

Quatro nações fazem parte do Reino Unido: Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte. Para chefe de Estado não há eleições, já que a mandatária é a rainha Elizabeth II e seu cargo é hereditário. O seu reino, inclusive, é um dos mais longos da história - são 58 anos à frente do cargo - e só perde para a legendária rainha Victória.

O cargo de primeiro-ministro, que representa a chefia de governo, é renovado a cada cinco anos. Na próxima quinta-feira os eleitores britânicos vão as urnas escolher os seus 650 representantes na chamada Câmara dos Comuns (que equivale a nossa Câmera dos Deputados).

Diferentemente do Brasil, por aqui o voto é distrital, e não proporcional. Qual a diferença? No nosso país, o número de cadeiras de cada partido é proporcional ao número total de votos, enquanto que por aqui cada distrito tem uma eleição própria, direta, e o vencedor ganha a cadeira. O problema dos métodos é saber qual é melhor e o assunto é polêmico. Inclusive isto é um dos pontos de debate destas eleições, já que existe uma ala política que defende a troca. No Brasil há quem defenda a mudança pelo voto distrital.

Como no Brasil, no RU há dezenas de partidos, mas, como nos Estados Unidos, dois deles dominam a política britânica. Os conservadores (chamados também de Tories) e os trabalhistas são as duas faces do jogo político. Há uma terceira força, os liberais democratas, que vem crescendo muito nestas eleições e que promete ter uma importância grande no próximo governo.

A disputa é assim: depois de eleitos, os membros do parlamento votam internamente para a escolha do primeiro-ministro. Isto serve apenas para ratificar a escolha popular, já que o partido que tem o maior número de cadeiras vai indicar o seu líder como chefe de governo. Este assume o prédio oficial do governo na Downing Street, 10, em Londres.

Os líderes dos três partidos e, assim, candidatos ao cargo de primeiro ministro são o trabalhista Gordon Brown, o conservador David Cameron e o liberal democrata Nick Clegg. O detalhe é que no RU o mandato não é da pessoa, e sim do partido, ou seja, quem alcançar a maioria na Casa escolherá o primeiro ministro pelos próximos cinco anos, ou até que o congresso seja dissovido. Isto é importante em caso de renúncia, como ocorreu em 2007, com Tony Blair. Não houve novas eleições, e o novo líder trabalhista, Gordon Brown, foi conduzido ao cargo.

A campanha começou oficialmente no dia 6 de abril, quando Gordon Brown foi até a rainha Elizabeth II pedir a dissolução da Câmara. A corrida começou com David Cameron um pouco à frente nas pesquisas, vantagem fruto do desgaste trabalhista. É bom lembrar que o partido já controla o governo há 12 anos (dez com Tony Blair e dois com Gordon Brown). Nestes anos, problemas como o apoio às guerras do Afeganistão e Iraque e a recessão criada rescentemente com a crise econômica fizeram com que o partido perdesse credibilidade junto ao eleitor.

Nas primeiras semanas, porém, Brown cresceu e deu mostras de que passaria Cameron para mais uma vitória trabalhista. Então vieram os debates, para desespero do primeiro-ministro. Pela primeira vez na história, o Reino Unido teve debates transmitidos ao vivo pela televisão. Foram três, todos temáticos. O primeiro abordou a política interna, o segundo os assuntos externos e o terceiro a economia e os impostos. Foi então que Nick Clegg decolou.

Declarado vencedor dos dois primeiros debates, o liberal democrata embolou a disputa com os seus adversários. As pesquisas, inclusive, lhe deram uma pequena liderança entre o primeiro e segundo confronto. No terceiro, porém, David Cameron, foi melhor e reassumiu o favoritismo.

O problema é que o jogo continua embolado, o que começa a preocupar investidores e ameaçar um futuro governo. Explico. Vamos imaginar que existam 100 cadeiras e que elas fiquem divididas assim: candidato A, 40, candidato B, 30, candidato C, 30. O candidato A vence as eleições, assume o governo, mas não consegue a maioria. Isto porque os outros dois partidos, unidos, contam com 60 e conseguiriam travar o seu governo. É isto que está ocorrendo atualmente, o que certamente dará força ao partido de Nick Clegg, na composição futura.

O que tenho reparado nestas eleições é que aqui também existe 'vale-tudo' político, como no Brasil. Os britânicos, diferentemente dos brasileiros, não se incomodam. O partido conservador, por exemplo, estampou por Londres um monte de outdoors com a imagem de Gordon Brown e com dizeres contrários ao primeiro-ministro. Existe um que é mais ou menos assim: "eu aumentei os impostos e vou subir a taxa do seguro social. Vote em mim". Embaixo, em letras minúsculas, um outro dizer: "ou vote por mudanças, vote Partido Conservador". Gostaria de ter a foto, para ilustrar, porque achei isto muito interessante. Imagino em Goiânia, por exemplo, se o PMDB colocasse um montão de outdoors com a foto gigantesca de Marconi Perillo com a frase: "Eu prometi X e não cumpri. Vote em mim outra vez". Daria o que falar.

Esta eleição também ficará marcada pelas gafes. A maior delas, indiscutivelmente, foi de Gordon Brown. O trabalhista estava em campanha, quando foi convidado a conversar com uma eleitora histórica de seu partido. A velhinha, que tinha algumas críticas sobre a política interna e economia, começou a fazer questionamentos e a debater com o primeiro-ministro. Depois de muito conversar, Brown despediu-se com sorrisos, entrou no carro e dialogou com um assessor:

- Foi um desastre. Eles nunca deveriam ter me colocado para falar com aquela mulher. De quem foi a idéia? - disse o premier.

O assessor diz alguma coisa e Brown emenda:

- Acho que foi da Sue. Foi ridículo.

- O que foi que ela disse? - insistiu o assessor.

- Ah, tudo! Ela é um tipo de mulher bitolada (radical). Ela disse que é trabalhista. Foi ridículo.

O que Gordon Brown não sabia é que o seu microfone estava ligado e o diálogo, claro, foi gravado e divulgado. O mais engraçado foi a reporter, depois do ocorrido, ir atrás da mulher para contar o que passou e pedir o que ela achava. Eles colocaram o audio do primeiro-ministro para ela ouvir. A velhinha, assustada, arregalou os olhos e disse: "Eu não posso acreditar nisto". Uma dica, se você me aguentou até agora, por favor, veja o video aqui. É muito engraçado, não irá se arrepender.

Esperaremos, então, a próxima quinta-feira, para ver qual futuro os britânicos decidirão para o seu país. Se trabalhistas terão mais alguns anos de poder, ou se os consevadores realmente estarão de volta.
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